GEOMORFOLOGIA ESTRUTURAL
I) A GEOMORFOLOGIA ESTRUTURAL é uma área de estudo da geomorfologia que registra a relação entre o relevo e a composição geológica. A geomorfologia estrutural enfatiza na influência das estruturas geológicas no desenvolvimento do relevo. Esta disciplina é muito importante em áreas com forte atividade geológica em que tais falhas e dobras predeterminam a existência de picos ou vales, ou a existência de baías e promontórios pode ser explicado pela erosão diferencial de afloramentos rochosos mais ou menos resistentes.
Relevos
O relevo de todas as partes do mundo apresenta saliências e depressões oriundas das eras geológicas passadas. Estas saliências e depressões conhecidas como acidentes de primeira ordem configuram as montanhas, planaltos, planícies e depressões; além desses acidentes existem outros menores: as chapadas, as cuestas e as depressões periféricas.
Estes acidentes resultaram da ação de dois tipos de agentes ou fatores do relevo. De origem interna, que recebe o nome de endógenos (vulcanismo, tectonismo e outros) e de origem externa, com o nome de exógenos (água corrente, temperatura, chuva, vento, geleiras, seres vivos).
Tradicionalmente, o relevo divide-se tomando como base três classificações: de Aroldo de Azevedo, Aziz Ab’Saber e Jurandyr Ross.
A história do planeta divide-se em eras geológicas, períodos, épocas e idades, não sendo proporcional a duração entre elas.
Sendo a crosta terrestre a base da estrutura geológica da Terra, várias rochas passam a compor esta estrutura e distinguem-se conforme a origem:
· Rochas Magmáticas (Rochas ígneas ou cristalinas): Formadas pela solidificação do magma, material encontrado no interior do globo terrestre. Podem ser plutônicas (ou intrusivas, ou abissais), solidificadas no interior da crosta, e vulcânicas (ou extrusivas, ou efusivas), consolidadas na superfície.
· Rochas Sedimentares: Formadas pela deposição de detritos de outras rochas, pelo acúmulo de detritos orgânicos, ou pelo acúmulo de precipitados químicos.
· Rochas Metamórficas: Formadas em decorrência de transformações sofridas por outras rochas, devido às novas condições de temperatura e pressão.
A disposição destas rochas determina três diferentes tipos de formações:
1. Escudos Antigos ou Maciços Cristalinos — São blocos imensos de rochas antigas. Estes escudos são constituídos por rochas cristalinas (magmático-plutônicas), formadas em eras pré-cambrianas, ou por rochas metamórficas (material sedimentar) do Paleozóico, são resistentes, estáveis, porém bastante desgastadas.
1. Bacias Sedimentares — São depressões relativas, preenchidas por detritos ou sedimentos de áreas próximas. Este processo se deu nas eras Paleozóica, Mesozóica e Cenozóica, contudo ainda ocorrem nos dias atuais. Associam-se à presença de petróleo, carvão, xisto e gás natural.
1. Dobramentos Modernos — São estruturas formadas por rochas magmáticas e sedimentares pouco resistentes; foram afetadas por forças tectônicas durante o Terciário provocando o enrugamento e originando as cadeias montanhosas ou cordilheiras.
Em regiões como os Andes, as Montanhas Rochosas, os Alpes, o Atlas e o Himalaia, são freqüentes os terremotos e as atividades vulcânicas. Apresentam também as maiores elevações da superfície terrestre. Os dobramentos resultam de forças laterais ou horizontais ocorridas em uma estrutura sedimentar que forma as cordilheiras. As falhas resultam de forças, pressões verticais ou inclinadas, provocando o desnivelamento das rochas resistentes.
II) FATORES ESTRUTURAIS ASSOCIADOS AO RELEVO
A influência da estrutura na morfogênese é profunda. Não somente as grandes feições morfológicas do globo: como cadeias de montanha, platô, rift-valley (vales de desabamento tectônico) margens continentais, são predominantemente de origem estrutural e formadas por dobramentos, falhamentos ou arqueamentos, mas também, as formas menores da paisagem, como formas de vertentes ou montanhas, o padrão de drenagem, são controlados também por estruturas, e através da ação de agentes de intemperismo e erosão de massas complexas de rochas.
Morfologia das Estruturas Concordantes e Discordantes
De acordo com a posição das camadas numa bacia sedimentar, a estrutura será concordante horizontal, inclinada ou discordante.
a) Estrutura Concordante Horizontal: E constituída de camadas horizontais ou quase horizontais dispostas uma sobre outra, formando relevos tabulares em forma de mesas e mesetas.
b) Estrutura Concordante Inclinada, Monoclinal ou Homoclinal: É constituída de camadas superpostas, levemente inclinadas, numa direção constante. Esse tipo de disposição, geralmente corresponde à porção que circunda a zona central plana de uma bacia sedimentar. O mergulho pode, entretanto, atingir valores bem superiores a 10º. ou 15°. Esse caso é freqüente no contato de bacias sedimentares com cadeias montanhosas.
As estruturas monoclinais dão relevos subtabulares, dissimétricos (relevo de cuestas). Uma estrutura é considerada monoclinal num sentido geral, abrangendo grandes áreas. No detalhe, pode haver variações de inclinação. Ex: flexura (uma brusca variação positiva do declive).
c) Estruturas Discordantes: Chama-se discordância o contato correspondente ao plano estratigráfico inferior de série geológica superior, cortando mais ou menos obliquamente o mergulho de série inferior.
A discordância mais comum supõe o desenvolvimento de uma superfície de erosão e, em seguida, uma transgressão. Neste caso toda bacia sedimentar comporta uma discordância no contato de seus depósitos basais com o escudo previamente arrasado.
d) Relevo em Estrutura Concordante Horizontal
Quando as camadas são homogeneamente tenras ou homogeneamente duras, predomina a erosão linear dos rios, formando vale em "v". Se as camadas têm resistências diferentes, os rios iniciam o entalhe, segundo zonas de fraqueza da rocha. O trabalho é lento nas rochas resistentes (arenitos silicificados). Os rios cavam os vales, separando por gargantas as plataformas estruturais (área cuja topografia é coincidente com a estrutura). O entalhe prossegue até que as rochas tenras subjacentes sejam atingidas. Daí para frente, a erosão se processa com facilidade, e os vales se alargam. Há solapamento na base das camadas duras, com desmoronamentos da cornija (abrupto saliente capeado por uma camada de rocha dura). As escarpas recuam, à medida que os vales se alargam.
Quando o estágio erosivo está muito avançado, a ponto de demolir uma camada tenra colocada sobre uma dura, fazendo surgir a superfície estrutural da camada dura subjacente, dizemos que a superfície estrutural foi exumada.
Quando as camadas duras são muito delgadas, os ressaltos desaparecem, salvo nos climas semi-áridos. Nos climas úmidos, o manto de decomposição mascara as estruturas.
A rede de drenagem em plataformas estruturais horizontais é insequente no início. Não apresenta direções orientadas pela estrutura, que é horizontal. O padrão é em espinha de peixe.
As características básicas do relevo tabular são: simetria de cornija e simetria de vertentes. (Ex. canyon do Colorado).
e) Relevo em Estrutura Concordante Inclinada, Monoclinal ou Homoclinal:
Os relevos derivados desse tipo de estrutura estão na dependência de dois fatores:
- camadas de resistência diferente.
- retomadas de erosão para permitir a superimposição da drenagem.
Os relevos dissimétricos são: costão, cuestas, hog-backs (semelhante a cuesta, mas o mergulho das camadas é maior 30 graus), cristas isoclinais.
1. COSTÃO: Relevo homoclinal, com inclinação suave. Difere-se de uma cuesta, por apresentar mergulho das camadas, no sentido da escarpa (planícies costeiras). Ex: No litoral nordestino, Grupo Barreiras.
2. CUESTA: É relevo dissimétrico formado por uma camada resistente, fracamente inclinada (declividade menor que 30 graus) e interrompida pela erosão, tendo na base uma camada tenra. É constituída de um lado por um perfil côncavo em declive íngreme, e do outro lado, por um planalto suavemente inclinado.
Ocorre em vários tipos de estrutura onde aparecem mergulhos fracos, homoclinais:
a) Periferia de bacias sedimentares interiores em contato com escudos antigos. Ex: São Luís do Purunã (oeste de Curitiba), Segundo Planalto Paranaense, no arenito de Furnas.
b) Planícies costeiras. Ex: a cuesta de Apodi, no Ceará, mantida pelo calcário Jandaíra.
c) Borda de grandes arcos de dobramentos. periferia de dobras. Ex: faixa de dobramento Araguai/Paraguai (Mato Grosso).
d) Periferia de domos. Ex: Morro de Pitanga (entre Rio Claro e Piracicaba)
Elementos topográficos de uma Cuesta são: front, depressão subseqüente e reverso.
a) Front: O front se representa como uma franja contínua, interrompida apenas por rios conseqüentes que correm conforme inclinação das camadas. Tais rios penetram no reverso por um funil ou garganta rochosa (parcée cataclinal).
As paredes são tanto mais longas quanto mais fracas for a inclinação das camadas. Elas são muito curtas quando as camadas são fortemente inclinadas.
O recuo do front é tanto mais rápido quanto mais espessa for a camada tenra e mais delgada for a camada resistente, e quanto mais fraca for a inclinação das camadas.
Em camadas fortemente inclinadas, o limite de equilíbrio dos blocos só é ultrapassado após a remoção de grande volume de terreno do tálus. Nesse caso, o recuo do front é muito lento.
Se a inclinação das camadas é fraca, aparecem morros testemunhos a diante do front. Quando é forte, eles não ocorrem.
O Front é constituído por cornija e tálus.
Cornija: É a parte superior do front sustentada pela camada resistente. Apresenta declive geralmente forte, de convexo a retilíneo, seguido de tálus côncavo. A forma e o declive da cornija dependem da relação de espessura das rochas duras e tenras e do contraste de resistência entre ambas. Quanto mais delgada for a camada dura, menos forte será a convexidade da cornija, pelo solapamento basal.
Tálus: Inclinação abaixo da cornija, a partir da linha de contato da camada resistente com a tenra. A forma e o declive do tálus dependem da natureza das camadas tenras, da espessura, da inclinação e da densidade da rede de drenagem obsequente.
Morro Testemunho: É uma colina de topo plano situado adiante de. uma escarpa de cuesta, mantido pela camada resistente. Representa um fragmento do reverso e é testemunho da antiga posição da cuesta antes do recuo do front. Atacados pela erosão, em todos os lados, eles tendem a perder o coroamento da camada dura e apresentam formas de peões, podendo desaparecer rapidamente.
b) Depressão Subseqüente: Desenvolve-se abaixo do tálus. É o negativo da cuesta, dissimétrica como ela. Tem uma vertente retilínea-côncava de forte inclinação, e uma vertente suave que pode terminar no reverso estrutural de outra cuesta.
c) Reverso: É o topo do planalto, suavemente inclinado no sentido oposto ao front. A superfície do reverso pode corresponder ao mergulho das camadas. Nesse caso, o reverso é diretamente derivado da estrutura. É o reverso estrutural.
Mais comumente, entretanto, a superfície do reverso corresponde a uma superfície de aplainamento que corta as camadas. A inclinação topográfica nesse caso é mais fraca do que o mergulho das camadas. O reverso corresponde à superfície de aplainamento.
Organização da Rede de Drenagem:
Num relevo de cuestas, a drenagem é organizada em função da estrutura. Deste modo, distinguem-se os seguintes tipos:
a) Conseqüentes ou Cataclinais: os que seguem as inclinações das camadas. Segundo Davis, são os primeiros a se organizarem. Atravessam a depressão subseqüente e cortam as camadas duras e tenras. Quando entalham as camadas resistentes abrem gargantas (parcées).
b) Subseqüentes ou Ortoclinais: São paralelos à direção das camadas, isto é, corre segundo a direção geral das camadas e perpendiculares ao mergulho. Desenvolvem-se após os primeiros e ao longo das camadas tenras. Aprofundando as rochas tenras põem em ressalto as duras, as quais dão origem às cuestas. São, portanto, adaptados à litologia. Desenvolvem-se aqui, as depressões subseqüentes ou Ortoclinais.
c) obsequente ou anaclinais: São afluentes dos subseqüentes. Correm em sentido inverso ao mergulho das camadas. São os rios obsequentes os responsáveis pelo retalhamento do front da cuesta, dando origem às percées anaclinais.
d) Ressequentes ou Cataclinais de Reverso: Afluentes dos subseqüentes correm segundo o mergulho das camadas, no reverso das cuestas. Tem mesma direção da drenagem conseqüente da área, mas a um nível mais baixo do que o pendor inicial. Correm para as depressões subseqüentes e não atravessam o front das cuestas.
3) HOG-BACKS: Se as camadas de resistência diferente apresentam mergulhos fortes, superiores a 30 graus, a forma resultante será um hog-back, relevo dissimétrico com cornija e reverso mais curto e mais inclinado do que nas cuestas. Tais formas são comuns na parte interna de domos ou de estruturas de dobras.
4) CRISTA ISOCLINAL: Desenvolve-se em estruturas de camadas quase verticais. As cristas apresentam simetria de flancos. Tais estruturas, entretanto, escapam às bacias de sedimentação de estrutura de calma, pois a perturbação das camadas está implicitamente relacionada aos processos tectônicos.
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