É simples: enquanto despejarmos CO2 na atmosfera mais rápido do que a natureza se livrar dele pelo ralo, a temperatura do planeta vai continuar subindo. Pois esse carbono extra leva muito tempo para ser eliminado.
Uma falha humana básica, segundo John Sterman, atrapalha ações contra o aquecimento global. Sterman fala de uma limitação cognitiva, "um problema no raciocínio humano", que constatou em testes com alunos do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês). Professor de dinâmica de sistemas, Sterman diz que seus alunos, embora acostumados a lidar com cálculos, não têm compreensão intuitiva de um sistema ao mesmo tempo simples e crucial: uma banheira.
Pense em uma banheira na qual a torneira e o ralo estão abertos. O nível de água pode representar fatores do mundo moderno. Um deles é o total de dióxido de carbono na atmosfera da Terra. Outros dois são a cintura de uma pessoa e o débito em seu cartão de crédito. Em todos esses três casos, o nível de água na banheira só diminui quando a vazão pelo ralo é maior que a entrada de água pela torneira - ou seja, quando queimamos mais calorias do que ingerimos ou quando saldamos débitos antigos com maior rapidez do que contraímos dívidas.
As plantas, os oceanos e as rochas drenam o carbono da atmosfera, mas em ritmo lento. Serão precisos centenas de anos para que seja removida a maior parte de CO2 que os seres humanos jogam na banheira, e centenas de milhares para ser eliminado. A interrupção do aumento de CO2, portanto, exigirá cortes brutais nas emissões de carros, termelétricas e fábricas, até que a entrada de água na banheira seja inferior à vazão do ralo.
A maioria dos alunos de Sterman não entende isso, ao menos quando o problema é descrito com a terminologia referente às questões climáticas. Eles imaginavam que o mero congelamento das emissões em seus atuais níveis evitaria o aumento de CO2 na atmosfera – como se a água que escorre de uma torneira em ritmo constante não pudesse provocar o transbordamento da banheira. Se alunos de uma escola tão prestigiosa quanto o MIT não entendem o que está em jogo, é provável que o mesmo ocorra com a maioria dos políticos.
Até 2008, o índice de CO2 na banheira era de 385 partes por milhão (PPM) e aumentava no ritmo de 2 ou 3 PPM por ano. Segundo Sterman, para estabilizar esse crescimento em 450 PPM, número que os cientistas consideram alto, o mundo teria de reduzir as emissões em 80% até 2050. Neste mês, quando diplomatas estiverem reunidos em Copenhagen para negociar um tratado sobre o clima, Sterman estará lá com seus programas informatizados que mostram de maneira imediata como os cortes de emissões propostos afetariam o nível na banheira - e, portanto, a temperatura do planeta. Em geral, no fim de seu curso, os alunos entendem bem melhor a dinâmica da banheira - e esse é um motivo de esperança. "As pessoas podem aprender isso", diz ele.
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fonte: National Geographic Brasil
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