sábado, 8 de setembro de 2012

O clima e as paisagens vegetais da América


O Clima e as paisagens vegetais na América.





No mundo há uma grande diversidade de climas por causa de vários fatores existentes que influenciam as características do clima de uma região. Fatores como pressão, umidade, temperatura das massas de ar, latitude, altitude, correntes marítimas, continentalidade, maritimidade e vegetação é que determinam as condições atmosféricas predominantes do clima.


Dentre os mais variados tipos de clima existentes, os principais são
:

Clima Equatorial: Com temperatura média de 25ºC, é caracterizado por períodos quentes e chuvosos durante quase todo o ano.

Clima Tropical
: Possui variação de temperatura, sendo que o inverno é marcado por temperaturas médias acima dos 20ºC, com períodos de seca; e verão com temperatura média superior a 25ºC, com período de chuvas abundantes.

Clima Subtropical: Possui variação de temperatura, sendo que o verão é marcado por temperaturas entre 15 e 20ºC e o inverno marcado por temperaturas entre 0 a 10ºC.

Clima Desértico
: Possui temperaturas médias entre 20ºC e 30ºC. É caracterizado por ser bastante seco.

Clima Temperado
: Possui boa definição das estações do ano, porém sofre alteração em regiões próximas aos oceanos e mares que tem seu inverno menos rigoroso e verão mais ameno.

Clima Mediterrâneo: Possui temperaturas médias superiores a 25ºC com verão quente e seco e inverno chuvoso.

Clima Frio
: Possui temperaturas médias negativas pelo fato do inverno ser mais longo e rigoroso. O verão ocorre em um período curto de forma amena.

Clima de Montanhas
: Possui temperatura variável de acordo com a altitude, ou seja, quanto maior a altitude menor é a temperatura. Mesmo em regiões tropicais, o clima de montanha é predominante nesse relevo.

Clima Polar
: Possui temperaturas abaixo de zero constantes. O inverno é longo, o verão muito seco e curto.

Clima semi-árido
: Possui temperatura elevada com baixa umidade atmosférica.

As Correntes Marítimas

As correntes marítimas são verdadeiros "rios" de água salgada dentro dos oceanos. Conforme a latitude em que se originam, elas podem ser de águas quentes ou de águas frias. As correntes marítimas podem influir no clima. A corrente do labrador, por exemplo, contribui para que as temperaturas na costa nordeste da América do norte sejam mais baixas ainda. Este chega a provocar o congelamento das águas do porto de Nova York. A corrente do Golfo, por sua vez, aquece o clima do Golfo do México e contribui para a pluviosidade da região, pois suas águas quentes favorecem a evaporação. Nas regiões áridas da américa, por sua vez, temos a corrente do Peru ou de Humboldt, que passa pela costa do peru e norte do Chile. Ao passar sobre as águas frias desta corrente, as massas quentes vindas do oeste perdem calor, condensam-se e se precipitam no próprio mar, e quando chegam ao continente, os ventos já estão sem umidade suficiente para provocar chuvas. O mesmo ocorre na costa oeste da América do Norte, devido a presença da corrente da Califórnia. Tais massas podem carregar ainda uma pequena umidade. Ao sofrer resfriamento sobre o continente, essa umidade transforma-se em neblina, e apesar da ocorrência desta, quase não chove na costa do Peru e Norte do Chile.

A influência das estações do ano

Devido ao movimento de translação da terra e a inclinação do eixo de rotação do nosso planeta, a intensidade de radiação solar varia no decorrer do ano. Em dezembro, é o hemisfério sul que recebe mais intensamente os raios do sol, enquanto o hemisfério norte passa elo período de menor insolação de todo o ano. Em junho, por sua vez, é o hemisfério norte que é atingido com mais intensidade pela radiação solar, enquanto o hemisfério sul passa pelo período em que recebe a menor quantidade de luz do sol. Por isso, o aquecimento do ar nos dois hemisférios varia conforme a época do ano, ocasionando mudanças na pressão atmosférica. Em conseqüência das alterações da pressão atmosférica e temperatura, as massas de ar se deslocam no decorrer do ano. Com seu deslocamento, elas determinam as características gerais dos climas.

A maritimidade


A maritimidade - proximidade em relação ao mar - ameniza as tendências da temperatura. Se o ar for quente, sua temperatura ficará mais baixa, e se for frio, a temperatura será mais elevada. Ao contrário da maritimidade, a continentalidade - distância em relação ao mar - acentua o calor e o frio, conforme a condição do ar. Isso ocorre porque a água demora mais para aquecer do que as superfícies continentais. Mas, uma vez aquecida, a água perde calor mais lentamente do que a terra. Esse fator também influi nas amplitudes térmicas de uma região, isto é, nas diferenças entre a maior e a menos temperatura. Nas áreas próximas ao mar, a variação de temperatura é menor do que no interior dos continentes. No nordeste da América do norte, por exemplo, a maritimidade contribui para que o clima temperado tenha verões mais brandos e invernos mais curtos que nas planícies centrais. Na região do Paraguai, por sua vez, a continentalidade torna os verões extremamente quentes.

Fatores determinantes do clima do continente Américano

O continente americano apresenta uma grande variedade de climas em decorrência de diversos fatores, como a latitude, o relevo, as correntes marítimas e a continentalidade.
Consequentemente, nele encontramos também grande diversidade de paisagens vegetais.

OS FATORES CLIMÁTICOS

Além da latitude, existem outros fatores que contribuem para determinar as condições climáticas de uma região. Entre eles destacam-se a altitude, a maritimidade, correntes marítimas e, principalmente, a dinâmica das massas de ar.

A ALTITUDE

A temperatura diminui em média 1ºC a cada 180 metros de altitude. Isso ocorre porque parte do calor do ar é transmitido pelo solo aquecido pela radiação solar. Do total da radiação que chega à terra, 34% são refletidos por elementos presentes na superfície e na atmosfera (partículas de poeiras, por exemplo); 19% são retidos pela atmosfera, e a maior parte 47%, é absorvida pelas águas e terra da superfície. Daí o calor é transmitido para o ar. Como podemos ver, a superfície terrestre é a principal fonte de calor da atmosfera. Além disso, a pressão atmosférica, e portanto, a densidade do ar, diminui com a altitude. Tornando-se rarefeito, o ar tem menos massa, o que significa menor capacidade de absorver e conservar o calor. É também por isso que, nas altas camadas da atmosfera, o ar é extremamente frio. Como as montanhas mais elevadas do continente americano situam-se a a oeste, é nessa região que ocorre a maior influência da altitude sobre o clima, e mesmo as montanhas situadas na zona tropical, as temperaturas são baixas, sendo que a altitude anula a influência da latitude. Por isso, em plena zona tropical, encontramos áreas de climas temperado e frio, como os cumes de montanhas dos Andes, que permanecem cobertas de gelo o ano todo. Ex: o planalto boliviano apresenta características próprias dos climas de montanha devido a altitude.

http://geografiadaamerica.blogspot.com.br/2009/05/clima.html

Cratera vira bairro na Zona Sul


Cratera vira bairro na Zona Sul

Por Marici Capitelli

Cientistas pesquisam queda de meteorito na Capital. Local pode virar pólo turístico

Dez bombas atômicas jogadas ao mesmo tempo em um único lugar. A Capital já passou pelo impacto dessa experiência quando, provavelmente, um meteorito caiu na Zona Sul da Cidade. O resultado da queda desse corpo celeste elevou a temperatura em torno de 5 mil graus e abriu a cratera de Colônia, em Parelheiros.

O fenômeno raro na América do Sul aconteceu entre 5 e 35 milhões de anos atrás. Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) trabalham agora para comprovar os dados cientificamente e chegar, inclusive, à idade correta desse patrimônio natural paulistano.

Durante anos, a cratera ficou entregue à própria sorte e acabou sofrendo uma ocupação desordenada e degradação ambiental - o contrário do que ocorreu em países como Estados Unidos e Alemanha. Lá também há crateras, que são pontos turísticos.

Os especialistas acreditam que a cratera paulistana, depois de ter sua origem comprovada também tem potencial para se transformar em ponto turístico sustentável e gerar desenvolvimento econômico. A Prefeitura também aguarda a confirmação científica para ampliar o trabalho de preservação ambiental que vem sendo feito na região.

A cratera de Colônia tem um diâmetro de 3,6 quilômetros. A profundidade chega a cerca de 400 metros. Quase 70% da área, segundo os estudiosos, está ocupada. São quase 40 mil pessoas vivendo dentro dela, numa ocupação que recebeu o nome de condomínio Vargem Grande.

O geólogo Victor Fernández Velasques, pesquisador da cratera há três anos e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, diz que a confirmação científica é fundamental.

“É um patrimônio natural importante que precisa ser preservado e que pode ser desenvolvido para o turismo ecológico, gerando renda local e ampliando a consciência ambiental das pessoas”, diz.

Victor diz ter “99% de certeza” de que realmente a cratera de Colônia é resultado da queda de um meteorito. “Mas precisamos ter 100%”, pondera. Em sua opinião, o estudo vai precisar a idade do fenômeno. “O que temos hoje é um espaço muito amplo de tempo (de 5 a 35 milhões de anos)”.

Desde o ano passado, as pesquisas na cratera estão sendo feitas com a verba de R$ 197 mil repassada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Entre as várias etapas do trabalho, o professor e os alunos já recolheram 180 amostras de material retirado do local.

Uma parte disso será enviada para análise em um laboratório canadense. O resultado do estudo vai ser apresentado de maneira extra-oficial em um congresso de Geologia em outubro, em Curitiba (PR).

O geólogo da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente, Osvaldo Landgraf Júnior, define o lugar da cratera como “ímpar”. “De maneira alguma é uma formação corriqueira”, afirma. Embora também acredite que tenha ocorrido a queda de um meteorito, o geólogo afirma que a confirmação científica é fundamental.

“Com essa comprovação, a área vai ganhar visibilidade mundial”. Em sua opinião, isso vai afetar diretamente os moradores que ocupam a cratera. “A população também vai entender a importância desse patrimônio.”

Mas será preciso compensar os prejuízos. Além da ocupação desordenada, a região sofreu a devastação ambiental. A área chegou até a abrigar um presídio. Em 2003, foi tombada pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico de SP). “O comprometimento ambiental é muito maior. O que a gente consegue ver é apenas o impacto visual”, avalia o professor.

Período

Meteorito teria 400 metros

Um corpo celeste atingiu a Zona Sul de São Paulo, onde hoje está o bairro Vargem Grande, em um período que pode ir de 5 a 35 milhões de anos atrás. De acordo com alguns estudos, o meteorito teria cerca de 400 metros de diâmetro

10 bombas atômicas. Esta foi a quantidade de energia do choque

Terra escura

Bairro possui solo morto, diz moradora

A cratera tem 3,6 km de diâmetro. Até hoje, a terra apresenta uma cor muito mais escura que a normal

400 metros é a profundidade média da cratera, onde hoje há casas

Ocupação

Bairro é desordenado

Cerca de 70% da área da cratera está loteada. O bairro Vargem Grande, em processo de regularização desde 2000, tem 86 ruas e infra-estrutura como linhas de ônibus, escolas, creches, base comunitária e uma emissora de rádio

40 mil pessoas vivem no bairro onde fica a cratera Colônia

Moradores temem novo meteoro

A rádio comunitária Cratera - sucesso absoluto de audiência entre os moradores do condomínio Vargem Grande - sempre aborda para seus ouvintes o bairro de características tão atípicas. O objetivo é conscientizar os moradores da importância da preservação ambiental e histórica.

Só que, preocupados com a sobrevivência diária e com medo de remoção, os moradores de Vargem Grande não se interessam muito pelo assunto. No imaginário popular, a preocupação é outra: será que outro meteorito pode voltar a cair no mesmo lugar?

Mãe de cinco filhos e morando na cratera há 15 anos, a dona de casa Adenita Silva Santos, de 34 anos, diz que quando ouve assuntos da cratera costuma parar para escutar. “Não entendo o motivo desse lugar ser diferente. Quero mesmo é saber se o negócio que caiu no passado pode cair de novo aqui no bairro”. Enquanto vive com essa dúvida, Adenita tem outro medo, esse mais concreto. “A Prefeitura fala que vai remover algumas famílias daqui. Eu tenho medo de perder a minha casa.”

Xerife - esse é o apelido de um dos moradores mais antigos da cratera. Ele é Antonio Fernando Barbosa, de 61 anos, que trabalha como voluntário na associação de moradores, vistoriando as matas para evitar ocupação e a caça.

“Falam que foi um meteorito que caiu do céu. Mas esse assunto interessa muito mais aos cientistas e às pessoas de fora do que aos próprios moradores.”

“Só sei que foi um negócio de milhões de anos. Nada mais.” A afirmação é de Edílson Costa de Jesus, de 44 anos, o Edinho, morador que é conhecido por apanhar as muitas cobras que aparecem no Vargem Grande.

Ele fez até uma caixa de madeira para transportá-las. E já levou cobra no ônibus para entregar no Instituto Butantã. “Não tem perigo de escapar”, jura. A mulherada da vizinhança logo brinca: elas dizem que preferem o meteorito que uma cobra solta no ônibus.

Embora existam três escolas dentro da cratera, os jovens se mostram desinformados sobre o assunto e a importância do bairro.

“Gosto muito desse tema, mas só tive informações quando estava na 4ª série. Depois, os professores não falaram mais”, diz Diego Santos Barbosa, de 13 anos, aluno da 7ª série. “Nunca aprendi sobre a cratera”, afirma Rayane Angeli da Silva Chagas, também de 13 anos.

Terra preta

O Vargem Grande nasceu há quase 20 anos resultado do movimento de moradia que se fortalecia na Cidade. Na época, os novos moradores não sabiam da peculiaridade da área e foram se instalando. Tanto é que a área ainda está em processo de regularização.

“O que nós sempre notamos é que a terra era muito mais preta do que em outras regiões, e também parece um solo morto”, conta Marta de Jesus Pereira, de 44 anos, vice-presidente da Associação Comunitária Habitacional de Vargem Grande (Achave).

Com uma comunidade organizada, o bairro foi ganhando estrutura. Hoje, possui escolas, creches e linha de ônibus. Mas grande parte das ruas ainda é de terra. Nos dias de chuva, vários pontos se transformam em lamaçal.

Opiniões

“Não entendo o motivo desse lugar ser diferente. Quero mesmo é saber se o negócio que caiu no passado pode cair de novo aqui no bairro” (Adenita Silva Santos, dona da casa que mora na região)

“Falam que foi um meteorito que caiu do céu. Mas esse assunto interessa muito mais aos cientistas e às pessoas de fora do que aos próprios moradores” (Antonio Fernando Barbosa, antigo morador do bairro)

Cidade alemã inspira subprefeito de Parelheiros

Olhando de cima, elas são semelhantes. Mas a preservação e ocupação urbana são completamente diferentes. A cratera de Ries, em Nördlingen, na Alemanha, foi formada há 15 milhões de anos e tem cerca de 24 quilômetros. É estudada desde 1790.

Assim como a da Colônia, as pessoas moram dentro dela, só que toda a área é preservada e tratada como patrimônio. Com 20 mil habitantes, a cidade está na rota turística da região da Baviera. Existe até o museu da cratera.

O subprefeito de Parelheiros, Walter Tesch, visitou a cratera alemã em novembro do ano passado. Voltou animado. “Além de um museu muito bem estruturado, eles fizeram pesquisas da impacto da cratera em vários aspectos”, contou.

Segundo ele, é preciso concluir o processo de regularização do bairro Vargem Grande. “Nós tempos que potencializar a cratera, ou seja, fazê-la um instrumento de desenvolvimento da economia local.”

A criação de um museu na cratera de Colônia está sendo estudada. Para isso, vêm sendo feitas ações na tentativa de desativar o Centro de Detenção Provisória (CDP) de Parelheiros, que fica na região. Um albergue para visitantes e pesquisadores também é cogitado.

http://www.bv.fapesp.br/namidia/noticia/24702/cratera-vira-bairro-zona-sul/

O que é Geografia?


O que é Geografia?

O Para grande parte da sociedade, a Geografia figura como uma disciplina didática que integra o currículo escolar em todos os sistemas de ensino; considerando que essa ciência é “decorativa”, isto é, os alunos são obrigados a decorar nomes de países, rios, cidades, capitais, Estados, entre outros. O que não passa de uma conclusão errônea em relação a essa importante ciência.

A Geografia é muito complexa e bastante abrangente, uma vez que está envolvida em inúmeros assuntos humanos e naturais. A origem dessa ciência ocorreu na Grécia Antiga, estudiosos gregos que viajavam para diversos pontos passaram a registrar tudo o que viam, com destaque para os recursos naturais e aspectos da cultura dos povos.

Um dos estudiosos mais lembrados é Heródoto (484-420 a.C), conhecido como “pai da história e da geografia”, sendo um dos primeiros a realizar
viagens “científicas”. Os primórdios da Geografia contribuíram grandiosamente para o seu desenvolvimento, no entanto, sua efetivação e reconhecimento como ciência sucedeu somente no século XIX, na Alemanha. Fato desencadeado pela Revolução Industrial iniciada na Inglaterra que impulsionou o desenvolvimento tecnológico e científico da época.

O
momento histórico vivido na Europa proporcionou uma situação favorável para o estudo científico geográfico, formando então, na Alemanha, a Escola Geográfica Alemã, denominada também de Escola Determinista.
Os “geógrafos” da referida escola eram: Alexander Von Humboldt, Karl Ritter e Friedrich Ratzel. Todos eles afirmavam que o meio determinava o homem, por isso eram chamados de deterministas, uma vez que não levavam em conta outros fatores.

Pouco tempo depois surgiu outra corrente de pensamento geográfico, agora na França, a chamada Escola Francesa ou Escola Possibilista, para os seus defensores “o meio não determina o homem, pelo contrário, o que acontece é uma constante influência do homem sobre a natureza e vice-versa”. O grande representante dessa escola é, sem dúvida, Vidal De La Blache.

As duas correntes de pensamento apresentadas tinham como finalidade justificar as manobras políticas dos países aos quais estavam subordinados, ambas consideradas “Geografia Tradicional”.

Em todo transcorrer do século XIX, a Geografia atraiu novos temas de abordagem, o que a tornou mais abrangente, reformulando e adaptando a novos objetos e objetivos, oscilando de acordo com o momento histórico e os ideais dos pesquisadores. Nessa perspectiva, muitos geógrafos da atualidade consideram que há muitas geografias, tendo em vista que a ciência está cada vez mais especializada. Hoje, temos a Geografia Humana que atua em diferentes seguimentos, dentre eles: Geografia turística, Estatística, Geografia agrária, Geografia Cultural, Geografia Econômica, Geografia Política, Geografia Social, Geografia Urbana, Recenseamento. A Geografia Matemática atua na Cartografia, Geografia Astronômica, Topografia, Geomática, Orografia, Sistemas de Informação Geográfica. Já na Geografia Física há uma grande subdivisão de atuações, as principais são: Biogeografia (Fitogeografía Zoogeografia), Climatologia (Climas: Clima árido, Clima polar, Clima semi-árido, subtropical, Clima tropical, Clima tropical úmido, Clima tropical seco), Geomorfologia (Geomorfologia fluvial, Geomorfologia eólica, Geomorfologia dinâmica, Geomorfologia climática), além de outras especialidades, como a Paleogeografia, Pedologia, Oceanografia, Hidrologia, Glaciologia, Geografia litorânea, Hidrografia, Hidrologia.

http://www.mundoeducacao.com.br/geografia/o-que-geografia.htm

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Formação de PANGÉIA

Solos do Brasil e da África
Existem muitas coincidências entre os fatores de formação dos solos do Brasil e da África com relação ao clima, material de origem, vegetação original, relevo e tempo.



Há milhões de anos, os solos do Brasil e da África faziam parte da mesma paisagem do mesmo continente.
Na dinâmica evolutiva da Terra ocorreu atrito entre as placas Sul Americana e Africana, ambos continentes separaram-se a uma distância de quase 10.000 km!
Os espaços entre essas placas também permitiram a entrada de lavas dos vulcões influindo muito na gênese dos solos.
O solo predominante no Brasil, classificado como Latossolo pelo Sistema Brasileiro da Embrapa; é o mesmo que predomina na áfrica onde é classificado como Ferralsol na classificação da FAO e Oxisol na classificação americana.

domingo, 2 de setembro de 2012

Quiz Semanal - Ta esquentando...



Meus Queridos!!!

 Quiz semanal + 4,0 

Nosso Quiz da semana, trata de um assunto polêmico: O Aquecimento Global.
Sabemos que este processo pode ocorre por pelo menos 4 motivos. Pois bem, o desafio é descobrir as quatro formas que podem aumentar ou diminuir a temperatura do planeta.


O que é Geomorfologia?


Introdução à Geomorfologia

1. Introdução ao estudo da geomorfologia

   1.1. A natureza da geomorfologia

   1.2. A geomorfologia no contexto da Geografia

   1.3. Síntese Evolutiva dos Postulados geomorfológicos

   1.4. Sistemas de referência em geomorfologia

      1.4.1. O sistema de William M. Davis

      1.4.2. O sistema de Walther Penck

      1.4.3. O sistema de Lester C. King

      1.4.4. O sistema de John T. Hack

   1.5. Algumas evidências quanto à velocidade da denudação

   1.6. Os níveis metodológicos em geomorfologia

1. Introdução ao estudo da geomorfologia

O que é e para que serve a Geomorfologia:

Mostrar a importância do estudo do relevo para os diferentes campos do conhecimento (planejamento urbano e regional, análise ambiental...), evidenciando a estreita relação com a Geografia.

As grandes correntes geomorfológicas e a situação atual:

Evidenciar as duas grandes linhagens epistemológicas (escola anglo-americana e germânica), com respectivas filiações, apresentando um panorama da situação atual (tendência holística, fundamentada na perspectiva germânica).

Os níveis metodológicos em geomorfologia

Mostrar a importância dos três níveis de abordagem sistematizados por Ab’Sáber (1969) para o estudo da geomorfologia. Resgatar a importância das unidades taxonômicas para o estudo do relevo (apresentar alguns conceitos básicos, como processos morfoclimáticos, morfogenéticos e morfodinâmicos, considerando as relações têmporo-espaciais).

1.1. A natureza da geomorfologia

A geomorfologia é um conhecimento específico, sistematizado, que tem por objetivo analisar as formas do relevo, buscando compreender os processos pretéritos e atuais. Como componente disciplinar da temática geográfi­ca, a geomorfologia constitui importante subsídio para a apropriação racional do relevo, como recurso ou suporte, considerando a conversão das propriedades geoecológicas em sócio-reproduto­ras (Kügler, 1976, caracteriza as funções sócio-reprodutoras em suporte recurso do homem). Seu objeto de estudo é a superfície da crosta terrestre, apresentando uma forma específica de análise que se refere ao relevo. A análise incorpora o necessário conhecimento do jogo de forças antagônicas, sistematizadas pelas atividades tectogenéticas (endógenas) e mecanismos morfoclimáticos (exógenos), responsáveis pelas formas resultantes.

Partindo do princípio de que tanto os fatores endógenos, como os exógenos, são “forças vivas'', cujas evidências demonstram grandes transformações ao longo do tempo geológico, necessário se faz entender que o relevo terrestre não foi sempre o mesmo e que continuará evoluindo. Portanto, a análise geomorfológica de uma determinada área implica obrigatoriamente o conhecimento da evolução que o relevo apresenta, o que é possível se obter através do estudo das formas e das sucessivas deposições de materiais preservadas, resultantes dos diferentes processos morfogené­ticos a que foi submetido.

O relevo assume importância fundamental no processo de ocupação do espaço, fator que inclui as propriedades de suporte ou recurso, cujas formas ou modalidades de apropriação respondem pelo comportamento da paisagem e suas conseqüências.

Ao se apresentar um estudo integral do relevo, deve-se levar em consideração os três níveis de abordagem sistematizados por Ab'Saber (1969), e que individualizam o campo de estudo da geomorfologia: acompartimentação morfológica, o levanta­mento da estrutura superficial e o estudo da fisiologia da paisagem.

compartimentação morfológica inclui observações relativas aos diferentes níveis topográficos e características do relevo, que apresentam uma importância direta no processo de ocupação. Nesse aspecto a geomorfologia assume importância ao definir os diferentes graus de risco que uma área possui, oferecendo subsídios ou recomendações quanto à forma de ocupação e uso.

estrutura superficial, ou depósitos correlativos se constitui importante elemento na definição do grau de fragilidade do terreno, sendo responsável pelo entendimento histórico da sua evolução, como se pode comprovar através dos paleopavimentos. Sabendo das características específicas dos diferentes tipos de depósitos que ocorrem em diferentes condições climáticas, torna-se possível compreender a dinâmica evolutiva comandada pelos elementos do clima considerando sua posição em relação aos níveis de base atuais, vinculados ou não a ajustamen­tos tectônicos.

fisiologia da paisagem , terceiro nível de abordagem, tem por objetivo compreender a ação dos processos morfodinâmicos atuais, inserindo-se na análise o homem como sujeito modificador. A presença humana normalmente tem respondido pela aceleração dos processos morfogenéticos, como as formações denominadas de tectogênicas, abreviando a atividade evolutiva do modelado. Mesmo a ação indireta do homem, ao eliminar a interface representada pela cobertura vegetal, altera de forma substancial as relações entre as forças de ação (processos morfogenéticos ou morfodinâmi­cos) e de reação da formação superficial, gerando desequilíbrios morfológicos ou impactos geoambientais como os movimentos de massa, boçorocamento, assoreamento, dentre outros, chegando a resultados catastróficos, a exemplo dos deslizamentos em áreas topograficamente movimentadas.

No estudo desses níveis, do primeiro em relação ao terceiro, os processos evoluem de uma escala de tempo geológica para uma escala de tempo histórica ou humana, incorporando gradativamente novas variáveis analíticas, como relacionadas a derivações antropogênicas, e exigindo maior controle de campo, o que implica emprego de técnicas, como o uso de miras graduadas para controle de processos erosivos, podendo chegar a níveis elevados de sofisticação análises específicas.

O estudo das formas do relevo deriva substancialmente das concepções geológicas do século XVIII, que representaram a tendência naturalista, voltada aos interesses do sistema de produção, tendo o “utilitarismo” como princípio. Em torno de 1850 a geologia havia chegado a grandes interpretações de conjunto da crosta terrestre, contando com um corpo teórico ordenado. A partir de então se registraram as primeiras contribuições dos geólogos nos estudos do relevo, dentre os quais se destacam os trabalhos de A. Surell, expondo esquema clássico da erosão torrencial, de Jean L. Agassiz, estabelecendo as bases da morfologia glacial, de W. Jukes, apresentan­do os primeiros conceitos sobre o traçado dos rios, de Andrew Ramsay e Grove K. Gilbert, evidenciando a capacidade de aplainamento pelas águas correntes, de John W. Powell e Clarence E. Dutton, calculando os ritmos de arraste e deposição dos sedimentos, dentre outros (Mendonza et al, 1982).

No final do mesmo século, William M. Davis, dando prosseguimento aos estudos de G. K. Gilbert e J.W. Powell apresenta proposta de uma geomorfologia fundamentada na tendência escolástica da época, representada pelo evolucionismo. Como se sabe, a influência do darwinismo como forma de substituição do modelo mecanicista influenciou significativa­mente o conhecimento científico geral. A escola geomorfológica alemã, por outro lado, encabeçada por Albrecht Penck e Walther Penck, defensora de uma concepção integradora dos elementos que compõem a superfície terrestre, se contrapôs às idéias de W. Davis, fundamentada na noção de ciclo, tida como “finalista”.

Evidencia-se, portanto, o nascimento de duas escolas geomorfológicas distintas, que serão consideradas a seguir, e cuja sistematização fundamentou-se em estudos desenvolvidos por Leuzinger (1948) e Abreu (1982 e 1983).

1.2. A Geomorfologia no contexto da Geografia

A teoria geomorfológica edificou-se com nítida vinculação aos campos de interesse da geografia e da geologia. Assume importância ao ser abordada no contexto geográfico, considerando sua contribuição no processo de ordenamento territorial.

Em importante revisão bibliográfica, Abreu (1982) mostra que o problema da pertinência da geomorfologia em relação à geografia, foi tratado em diversas oportunidades, como por Hartshorne (1939), Russel (1949), Bryan (1950),Taylor (1951), Leighly (1955), dentre outros. Wooldridge e Morgan (1946) consideram a pertinência da climatologia e da geomorfologia e de suas aplicações no campo da geografia. Nos anos 60e 70, a geomorfologia passa a ser incorporada ao contexto da crítica teórico-conceitual da geografia, destacando-se aqui os trabalhos de Hamelin (1964), Schmithüsen (1970), Neef (1972) e Kügler (1976), além de outros.

Para Hamelin (1964), a geomorfologia se erige como uma disciplina por meio de sua própria teoria, não interessando em toda sua completude à geografia. Ao admitir a possibilidade de avançar em duas dimensões (geomorfologia funcional e geomorfologia completa ou integral), o autor compreende a geomorfologia como processo: de um lado, no contexto da geociências, devendo ser explorada numa escala temporal de maior magnitude (escala geológica), e de outro, concentrando suas atenções nos fenômenos de duração temporal mais curta, valorizando os aspectos das derivações antropogênicas (escala humana ou histórica). Conclui por uma postura consensual entre autores de língua inglesa e francesa, na qual a geomorfologia se erige como uma disciplina através de seu próprio campo e teoria, não interessando em toda sua extensão à Geografia (Abreu, 1982).

Schmithüsen (1970), ao procurar articular o campo e o conteúdo da geografia, com o intuito de superar o antagonismo geografia física - geografia humana, propõe uma síntese em que a teoria e o método ocupem um lugar central. No “Sistema da Ciência Geográfica” proposto pelo autor, a divisão geografia física - geografia humana não encontra lugar, assinalando que esta dicotomia mais prejudica do que beneficia o verdadeiro campo da geografia”.

A aproximação, ao invés da subordinação, da geomorfologia funcional a uma geografia global, no conceito de Hamelin (1964), resulta da própria tendência naturalista da escola germânica a partir da década de trinta, quando busca uma visão holística. Atribui-se a Tricart & Cailleux (1965) o tratamento do relevo como “unidade dialética” por entenderem sua evolução como o resultado da ação e reação de forças antagônicas, fundamentadas no sistema de referência idealizado por Penck (1924).

Neef (1972), numa abordagem mais geográfica dos componentes da paisagem natural, procura desenvolver uma postura voltada aos interesses da sociedade. "As conclusões que Neef alcança são fundamentais, deixando cristalino que se a geografia quiser atingir uma posição de mérito na resolução dos problemas mundiais, ela deverá aprofundar-se em uma concepção que a transforme em uma ciência ambiental” (Abreu, 1982).

Nessa trajetória Ab'Sáber (1969) sistematiza os níveis de abordagem metodológica em geomorfologia, oferecendo um quadro de referência que valoriza a perspectiva geográfica ao retomar o conceito de “fisiologia da paisagem” usado por Siegfried Passarge (1912). Para Abreu (1982), Ab'Sáber (1969) assume uma postura naturalista dos estudos de geografia física global.

Kügler (1976), ao desenvolver pesquisa e mapeamento geomorfológico na República Democrática Alemã, conceitua, de forma integrada, o relevo e o território, “que se cunham em uma interface extremamente dinâmica, produzindo uma paisagem fortemente marcada pela sociedade e por sua estrutura econômica. Apóia-se indiscutivelmente, na clássica visão alemã das diferentes esferas que se interseccionam e definem uma epiderme de pouca espessura, consubstanciando-se, formalmente, através da paisagem” (Abreu, 1982), de onde emerge o conceito de Landschaftschülle .

O conceito de georrelevo concebido por Kügler corresponde a uma superfície limite produzida pela dinâmica dos integrantes sistêmicos, resgatando o conceito tradicional da geomorfologia alemã. A dinâmica e as propriedades adquiridas são fundamentais para se compreender a forma com que se dá a evolução das propriedades geoecológicas do georrelevo em propriedades sócio-reprodutoras. O uso das propriedades geoecológicas, como suporte ou recurso, reflete a intensidade e modos de uso face aos custos sociais de reprodução.

Kügler (1976) utiliza-se dos eixos tradicionais de evolução da geomorfologia alemã, apoiado em Passarge (1912) e Penck (1924). Ao emergir de um contexto geográfico, a geomorfologia supera a perspectiva dicotômica interna (como a estrutural e climática, lembradas por Abreu, 1982), culminando com a concepção de georrelevo, numa perspectiva paisagística.

A década de 70 pode ser tomada como o marco inicial de uma discussão mais abrangente das questões ambientais, quando aparece a designação geomorfologia ambiental (Simpósio de Bringhauton, 1970), tendo por objetivo incluir o social ao contexto das ampliações geomorfológicas. Os resultados mais significativos considerados por Achkar & Dominguez (1994) aparecem no final da década de 80:
  • nova conceitualização da relação sociedade-natureza, opondo-se à visão dualista uma interpretação monista;
  • no nível aplicado da geomofologia se apresenta o desafio de gerar respostas às questões de natureza ambiental;
  • quanto ao método, a geomorfologia busca uma proposta concreta, vinculada à elaboração de cartas de diagnóstico ambiental, como insumo do ordenamento espacial;
  • a revalorização dos antecedentes da geomorfologia alemã, no princípio do século XX, estabelece uma estreita relação da geomorfologia com a geografia, dada a conceitualização monista da natureza. Não é por acaso que tais conteúdos comecem, com o advento da ecologia, a discutir as relações sociedade-natureza enquanto categorias filosóficas
Embora devam se admitir importantes avanços com relação à perspectiva de uma maior integração entre geomorfologia e geografia, os princípios metafísicos ainda se fazem presentes, chegando ao exagero de se separar o geomorfólogo do geógrafo, atribuindo-se muitas vezes ao último a responsabilidade pela decisão da escolha das variáveis de interesse considerando “sua visão particular” (Casseti, 1996).

Ao se considerar a tendência ambiental numa perspectiva holística, a geomorfologia peca por desconsiderar os processos na sua integridade, ou seja, a evolução do relevo como fruto das relações contrárias (forças internas e externas), ao mesmo tempo se constituindo substrato apropriado pelo homem enquanto componente de relações sociais de produção com interesses distintos, com reflexos nas propriedades geoecolócias do relevo. A visão holística, embora se caracterize como avanço em relação à postura fragmentária-mecanicista, carece de mudança paradigmática mais profunda, numa perspectiva ecológica. Tal fato leva conseqüentemente a uma valorização das geociências em detrimento das relações sociais, considerando a proximidade ambiental.

Partindo do princípio de que a base de sustentação teórica para a necessária abordagem ambiental fundamenta-se na dialética da natureza, fica claro que a geomorfologia, ao mesmo tempo em que deve se preocupar com a própria fundamentação teórica (a geomorfologia em si, na visão da “geomorfologia integral” de Hamelin, 1964), carece de uma rediscussão epistemológica, em busca de uma “geografia total”. Apropriando-se da concepção de dialética da natureza recuperada por Branco (1989), torna-se necessário pensar dialeticamente para apreender as novas paisagens da fisis (objetos disciplinares unidos por um traço comum: a “dialeticidade”). Essa compreensão só se torna possível ao resgatar o conceito de natureza.

Como se sabe, a externalização da natureza configura o núcleo do programa da modernidade gestado no iluminismo. Tem-se, portanto, o homem como “senhor e possuidor da natureza”, legitimando a apropriação privada dos meios de produção, base de sustentação do sistema capitalista. Com base no princípio da externalização promovem-se as diferentes formas de alienação, o “desencantamento do mundo”, o que permite a apropriação espontaneísta e dilapidante da natureza, além do evidente antagonismo de classes sociais. 

Significa, portanto, que para compreender a natureza em sua integridade, numa perspectiva dialética, torna-se imprescindível compreender além das relações processuais (contribuição da geomorfologia em si), as relações de produção e suas forças produtivas, sem desconsiderar as implicações da superestrutura ideológica, responsável pela preservação das diferentes formas de alienação (o necessário traço comum para a união dos objetos disciplinares), culminando com a apropriação espontaneista do utilitarismo.

Compreender a dialeticidade da natureza significa compreender a unidade entre o processo histórico natural e a história do homem, o que permite concluir que o processo do pensamento é, ele próprio, elemento da natureza: o movimento do pensamento não está isolado do movimento da matéria, o que se contrapõe ao dualismo psico-físico descarteano – substância pensante e substância meramente extensa – que fundamentou o princípio de que a natureza interna está dominada em prol da dominação da natureza externa (Casseti, 1996).

Conclui-se que preocupar-se com a perspectiva ambiental em geomorfologia significa preocupar-se com a compreensão dialética da natureza, numa visão de Engels, o que demonstra ser responsabilidade de todos, em busca da unidade que tem sido entendida de forma parcial.

 1.3. Síntese Evolutiva dos Postulados geomorfológicos

As diferenças histórico-culturais européias levaram à individualização de quadros nacionais contrastantes no contexto político continental, contribuindo para que se desenvolvessem correntes filosóficas e relações escolásticas distintas, levando ao discernimento de duas linhagens epistemológicas em geomorfologia. Uma , hoje identificada como de natureza anglo-americana, onde se evidenciou a aproximação da Inglaterra e França com os Estados Unidos, e outra de raízes propriamente germânicas, que posteriormente incorporou a produção publicada pelos russos e poloneses.

A linhagem epistemológica anglo-americana fundamenta-se, praticamente até a Segunda Guerra Mundial, nos paradigmas propostos por Davis (1899), através de sua teoria denominada de Geographical Cycle . Para ele, o relevo se definia em função da estrutura geológica, dos processos operantes e do tempo.

Apesar de Gilbert (1877) já ter tentado explicar o relevo como resultante da erosão, portanto numa perspectiva climática, Davis considerava a morfologia em função da estrutura geológica, o que mereceu críticas insistentes do meio intelectual germânico contemporâ­neo, por volta de 1908/9. A geomorfologia davisiana praticamente não tinha qualquer articulação com uma visão processual mais ampla, como a incorporação de componentes da climatologia ou da biogeografia, amplamente integradas na geomorfologia alemã.

No final da década de 30 do Século XX, os norte-americanos se interessaram pelas críticas de W. Penck à teoria davisiana. A interpre­tação de Penck (1924) ao ciclo geográfico, divulgada durante o Simpósio de Chicago (1939), foi incorporada pelos seguidores de Davis, criando novos paradigmas.

Durante a Segunda Guerra Mundial, a influência do pensamento científico alemão se amplia nos Estados Unidos, propor­cionando o desenvolvimento de técnicas implementadas com posturas filosóficas bem definidas. Um dos autores da corrente anglo-americana que utilizou os princípios adotados por Penck foi Lester C. King (1953), cujas pesquisas sobre aplainamento caracterizavam o centro das atenções geomorfológicas na época. Na oportunidade, Kirk Bryan, Jean Dresch e André Cholley, até então vinculados à linhagem anglo-americana, começam a distanciar-se da concepção davisiana de relevo. Cholley (1950), partindo da análise corológica, introduz conceitos como “dialética das forças'' em sistema aberto.

Deve-se acrescentar que a escola francesa, que exerceu posteriormente grande influência no desenvolvimento da geografia e geomorfologia brasileiras, se caracterizava pela repro­dução do conhecimento científico anglo-americano. Isso pode ser exemplifi­cado através das influências de Davis nos trabalhos elaborados sob a perspectiva estrutural, com Emmanuel de Martonne e André de Lapparent, fundamentados na tradição morfoestrutural de Emmanuel de Marguerie (1888, apud Mendonza et al, 1982).

Progressivamente, os autores americanos assumem uma atitude mais crítica, contribuindo sobremaneira para a elaboração de outros paradigmas, como o do “espaço”, enquanto Davis valorizava o “tempo”. Assim, enquanto a escola germânica valorizava as relações processuais e reflexos no modelado da paisagem, a anglo-americana, tendo Davis como principal representante, tinha o fator temporal como determinante da evolução do modelado, evidenciado pela antropomorfismo do relevo. A concepção evolutiva de Davis tinha por objetivo contribuir, de maneira despretensiosa, para o entendimento evolutivo do modelado, embora sem desconhecer a complexidade dos processos. Contrariando a postura tida como subjetiva de Davis, os autores americanos “convertidos” propunham fatos objetivos, estudados sob a ótica da quantificação, valorizando as relações processuais.

A partir da década de 40 até a de 60, a quantifi­cação, a teoria dos sistemas e fluxos e o uso da cibernética (geografia quantitativa) assumem a vanguarda nos estudos geomorfológicos. Valorizam-se a análise espacial e o estudo das bacias de drenagem (Strahler, 1954; Gregory & Walling, 1973), ao mesmo tempo em que novas posturas começam a surgir, como a teoria do equilíbrio dinâmico de Hack (1960). Horton (1932, 1945), que já havia estabelecido leis básicas no estudo de bacias de drenagem utilizando propriedades matemáticas, assume relevância nos estudos hidrológicos.

Ainda na linha de adaptação e reforma do paradigma davisiano, destacam-se H. Baulig (1952) e P. Birot (1955). O primeiro, admitindo a freqüência dos movimentos crustais e as variações relativas ao nível dos mares, e o segundo concluindo que a evolução geral do relevo encontra-se relacionada a uma modalidade de ciclo morfológico que está em função do clima e da vegetação.

A inclusão da ação humana como instrumento de modificação das formas do relevo trouxe a vantagem de melhor entendê-las dentro de sistemas geomórficos atuais, ampliados pelos processos denominados de morfodinâmicos (Cruz, 1982).

Entre 1960 e início da década de 70, a aplicação dos postulados anteriormente obtidos, incorpora a teoria probabilística. Esses trabalhos acabaram caindo em formulações estéreis, sobretudo pela rejeição ao paradigma davisiano, sem serem substituídos por outros universalmente aceitos. Se por um lado valorizam o espaço e supostas relações processuais, por outro desconsideram as relações temporais, julgadas como comprometidas com o paradigma davisiano (Abreu, 1983).

Morley & Zunpfer (1976) e Thornes & Brunsden (1977) procuram rever as propostas precedentes. Não introduzem novos paradigmas, mas apresentam posição crítica liberta de preconceitos, valorizando as observações de campo. Levam em conta a ação processual, segundo referencial têmporo-espacial (Schumm & Lichty, 1965).

A linhagem epistemológica alemã tem Ferdinand von Richthofen (1883) como referência inicial, mantendo a pretensão humboldtiana de globalidade (harmonia natural). Enquanto Davis tinha em sua retaguarda nomes de geólogos, von Richthofen tinha como predecessores autores naturalistas, que por sua vez tinham Goethe como ponto de referência permanente, que empregou pela primeira vez a expressão “morfologia'' como sinônimo de geomorfologia. 

Fica patente a preocupação da “escola germânica” em tratar o relevo numa perspectiva geográfica, o que pode ser atribuído à própria origem de sua linhagem epistemológica, relacionada aos naturalistas, a exemplo de Alexander von Humboldt (1769-1859).

Enquanto Davis apresentava uma proposição teorizante-dedutivista, von Richthofen se individualizava pela perspectiva empírico-naturalista utilizando-se de guia de observações de campo. Albrecht Penck (1894) também teve um papel fundamental na orientação da geografia alemã. Apesar de compartilhar de algumas noções básicas da teoria davisiana, como a de aplainamento, A. Penck deu ênfase à herança naturalista de Goethe e Humboldt, valorizando a observação e a análise dos fenôme­nos. A. Penck (1894) sistematiza teorias e formas do relevo (tratamen­to genético das formas), tornando-se um dos clássicos da Geografia, exercendo grande influência no desenvolvimento da geomorfologia alemã nas primeiras décadas do século XX.

Dentro desse contexto, três autores se destacam: A. Hettner (1927), grande crítico da teoria davisana; S. Passarge (1912, 1913), com a proposição de novos conceitos, como “fisiologia da paisagem'', fundamentado na idéia de organismo e S. Günther (1934), que desenvolveu uma abordagem processual e crítica ao sistema de referência davisiano.

Walther Penck (1924) aparece como principal opositor da postura dedutivista-historicista de Davis, valorizando o estudo dos processos. Em Morphological Analysis of Landform , publicação póstuma, utiliza-se da geomorfologia para subsidiar a geologia e contribuir para a elucidação dos movimentos crustais. Contribui assim para o avanço da geomorfologia, formali­zando conceitos como o de “depósitos correlativos''. Apesar de criticado, com a publicação de 1953, versão inglesa, levou alguns autores norte-americanos a se interessarem pelos estudos de vertentes e processos.

Desde Sigfried Passarge (1912), Otto Schüter (1918) e Karl Sapper (1914), os trabalhos de Geografia física coincidem com o estudo científico de diversas configurações resultantes do intercâmbio funcional entre litosfera, hidrosfera e atmosfera, que se dá na superfície terrestre, cuja unidade espacial representa o conceito de “paisagem''.

A linha de estudos da geomorfologia climática e climato­genética emerge das pesquisas de J. Büdell (1948), “que levaram a uma ordenação dos conjuntos morfológicos e origem climática, em zonas e andares, produzidos pela interação das variáveis epirogenéticas, climáticas, petrográficas e fitogeográficas'' (Abreu, 1983)”.

O temário “paisagem'' evolui com Troll (1932), que reconhece a necessidade tanto teórica quanto prática de uma conver­gência entre geografia física e ecologia.

Após a Segunda Guerra, a cartografia geomorfológica emerge como instrumento fundamental para a análise do relevo, graças às contribuições desenvolvidas na Polônia, Tchecoeslováquia e URSS (Klimaszewski, 1983; Demek, 1976; Basenina & Trescov, 1972). O avanço do mapeamento geomorfológico e seu crescente emprego no planejamento regional mantêm o caráter geográfico da ciência geomorfológica.

Assim, a geomorfologia alemã, na Segunda Guerra Mundial, se beneficia com o desenvolvimento da cartografia geomorfológica, enquanto a geomorfologia anglo-americana permanece estagnada. As críticas consubstanciadas ao modelo davisiano acabam respondendo por uma verdadeira ruptura epistemológica na perspectiva anglo-americana, aproximando-se cada vez mais das bases que subsidiam a linhagem germânica (Fig 1. 1 .).



Outras considerações contrastantes podem ser notadas entre as escolas anglo-saxônica e germânica, que justificam as divergências teórico-metodológicas, a começar por Davis, que se utilizou do referencial teorizante, apoiado em posturas geológicas. A escola germânica por sua vez, fundamenta-se na concepção naturalista de Humboldt. Deve-se acrescentar que a preocupação com o espaço encontra-se vinculada a uma Geografia político-estatística, onde a unidade regional é priorizada.

Enquanto Davis é o principal ponto de referência da geomorfologia anglo-americana, W. Penck se caracteriza como um dos grandes entre muitos. Portanto, a postura teorizante de Davis e o próprio processo dedutivo contribuem para a evolução do referencial cíclico do relevo em sistemas de tendência axiomática, onde a ação processual quantificada romperia com a abordagem historicista. A geomorfologia alemã, fundamentada na observação, caracterizava-se como guia de campo. Assim, se as reformulações conceituais na escola anglo-americana evidenciavam ruptura epistemológica, a geomorfologia alemã se caracterizava pelo progressivo refinamento de conceitos.

O estruturalismo e a teoria dos sistemas processaram repercussões distintas no nível epistemológico em ambas as escolas. Na Alemanha, evidenciou-se maior integração das ciências naturais, favorecendo as análises geoecoló­gico- processuais, valorizando a cartografia geomorfológica e a ordenação ambiental (ótica marxista, identificada nas propostas dos países socialistas), ao mesmo tempo demonstrando o caráter geográfico através da sua vinculação com a questões sociais. Na escola anglo-americana , a já considerada ruptura com a abordagem historicista favorece o desenvolvimento de teorias e métodos de análises quantitativas, isolando a geomorfologia da geografia e orientando-a para perspectivas geológicas e hidrológicas. A tentativa de se harmoni­zarem as transformações observadas leva ao surgimento de teorias alternativas, proporcionando a valorização dos processos geomorfológicos, segundo o sistema referencial têmporo-espacial.

Apesar da convergência internacional do conhecimento geomorfológico, as duas tendências consideradas apresentam-se razoavelmente diferenciadas, mesmo com a incorporação gradativa da postura alemã à americana, evidenciada gradativamente a partir do Simpósio de Chicago (1939).

No Brasil, a mais importante contribuição à teoria geomorfoló­gica parte de Ab'Sáber (1969), que “salvo melhor juízo, parece dar a tônica nos postulados de raízes germânicas'' (Abreu, 1983).

Recentemente, autores soviéticos e franceses (Bertrand, 1968; Tricart, 1977, Sochava, 1972) têm procurado desenvolver estudos integrados da paisagem, sob a ótica dos geossistemas, o que valoriza a perspectiva geomorfológica alemã.

Assim, com o progressivo amadurecimento do estudo da paisagem e dos estudos geoecológicos, originados e desenvolvidos a partir da sistematização da geomorfologia alemã, tem sido possível articular a natureza à sociedade. Retomando Schmithüsen (1970) “se queremos compreender a ação do homem, não devemos separar a sociedade do meio ambiente que a rodeia''. Casseti (1991) apropria-se do conceito de “natureza externalizada” como argumento de apropriação espontaneísta do relevo. A partir dos subsídios oferecidos pela “geomorfologia funcional”, propõe alternativa para o desenvolvimento de uma “geomorfologia integral” no conceito de Hamelin (1964).

1.4. Sistemas de referência em geomorfologia

Viu-se que a sistematização da ciência geomorfológica nasce com W. M. Davis (1899), nos Estados Unidos, representante da tendência anglo-americana, constituindo a primeira interpretação dinâmica da evolução geral do relevo (ciclo de erosão geográfico). As idéias de Davis foram contesta­das, sobretudo por W. Penck (1924), representante da escola germânica, que culminou na ruptura epistemológica da primeira a partir do Simpósio de Chicago (1939).

A escola anglo-americana pós-davisiana foi marcada por uma tendência fundamentada na Teoria Geral de Sistemas e no processo de quantificação, destacando-se os trabalhos de L.C. King (1955) e J. Hack (1960).

Com o intuito de resgatar a construção do processo histórico do pensamento geomorfológico, apresentam-se as principais teorias ou sistemas que contribuíam para a compreensão do processo evolutivo do relevo.

1.4.1. O Sistema de William M. Davis

O sistema de W.M Davis (1889), fundamentado no conceito de nível de base7 de Powell (1875), sugere que o processo de denudação inicia-se a partir de uma rápida emersão da massa continental. Diante do elevado gradiente produzido pelo soerguimento em relação ao nível de base geral, o sistema fluvial produz forte entalhamento dos talvegues, originando verdadeiros canyons , que caracterizam o estado antropomórfico denominado de juventude . A idéia mais importante é a de que os rios não podem erodir abaixo do seu nível de base. Davis, portanto, se viu obrigado a completar o conceito de nível de base com outro fundamental, o de “equilíbrio'', para o que se utilizou da idéia de balanço entre a erosão e a deposição.

O trabalho comandado pela incisão vertical do sistema fluvial desaparece com o estabelecimento do perfil de equilíbrio ( Fig. 1.2 ), quando a denudação inicia o rebaixamento dos interflúvios, marcando o fim da juventude e o começo da maturidade. Alguns escritos em alemão de Davis abordam os possíveis efeitos de levantamento e erosão consecutivos.



O processo denudacional que individualiza a maturidade, para Davis, caracteriza-se pelo rebaixamento do relevo de cima para baixo ( wearing-down : desgastar para baixo), o que torna necessário admitir a continuidade da estabilidade tectônica, bem como dos processos de erosão ( Fig. 1.3 ).


A evolução considerada tende a atingir total horizontali­zação topográfica, estágio denominado de senilidade,quando a morfologia seria representada por extensos “peneplanos”, às vezes interrompidos por formas residuais determinadas por resistência litológica, denominadas monadnocks . Nesse instante haveria pratica­mente um único nível altimétrico entre interflúvios e os antigos fundos de vales (níveis de base), os quais estariam representados por cursos meandrantes (para Davis a meandração significava a senilidade do sistema fluvial), com calhas aluviais inumadas pela redução da capacidade de transporte fluvial ( Fig. 1.4 ).



Para Davis (1899), o relevo, ao atingir o estágio de senilidade, seria submetido a novo soerguimento rápido, que implica­ria nova fase, denominada rejuvenescimento, dando seqüência ao ciclo evolutivo da morfologia.

Conforme Carson & Kirkby (1972), existem duas suposições-chave no sistema descritivo: a primeira é a de que a emersão e a denudação não podem ocorrer concomitantemente, ou seja, a denudação pode somente adquirir alguma importância quando a massa de terra estiver tectonicamente estável. A segunda é a suposição de que os rios sofrem duas fases de atividades: rápida incisão inicial e depois virtual repouso, uma vez atingido o estágio de equilíbrio. A condição de “virtual” repouso significa a continuidade evolutiva, sem assumir o esforço indutivo evidenciado na situação anterior.

Considerações ao sistema ou modelo proposto por Davis têm sido apontadas em ambas as suposições, partindo do princípio de que o processo de soerguimento não pode estar dissociado dos efeitos denudacionais, ou seja, ao mesmo tempo em que o relevo encontra-se em ascensão por esforço tectônico, os processos morfogenéticos estarão atuando. Considerando os resultados de evidências empíricas de que efeitos orogênicos modernos se aproximam de 7,5 metros a cada 1.000 anos, dados apresentados por Tsuboi (1933) para o Japão (valor comparável com as medidas atuais de ajustamento isostásico em áreas recobertas por geleiras pleistocênicas), torna-se inadmissível a idéia da referida dissociação. Também seria improcedente a idéia de uma estabilidade tectônica, da juventude até a senilidade, uma vez que, com base em níveis modernos de erosão, a denudação de aproximadamente 1.500 metros de material requereria, provavelmente, entre 3 a 110 milhões de anos (Schumm, 1963). Para Davis, seriam necessários de 20 a 200 milhões de anos para o aplainamento das cadeias de montanhas, como as falhas de Utah, tempo mais que suficiente para manifestações de natureza tectodinâmi­ca.

A impossibilidade de se admitir estabilidade tectônica absoluta por um período geológico tão prolongado inviabiliza inclusive a idéia de se atingir o referido “virtual repouso'', o que faz supor o estabelecimento do perfil de equilíbrio imaginário. Torna-se difícil admitir a possibilidade de um período de estabilidade tão prolongado para permitir o desenvolvimento do peneplano de Davis, caracterizando uma certa comodidade esquemática. Davis desconsiderou ainda a possibilidade de mudanças climáticas “aciden­tais'' no modelo, o que resultaria em deformação no sistema imaginado.

Também o conceito de estágio esboçado por Davis, com base nas idéias de Gilbert (1877), tem sido contestado por geólogos americanos, como Leopoldo & Meddock (1953), que acreditam na existência de estágio relativamente precoce no processo de incisão, sugerindo a mudança na atividade fluvial: de rápida incisão inicial, para o processo de formação de planície aluvial.

O caráter cíclico utilizado por Davis como modelo evolutivo, constitui, no conceito científico geral, estágio embrionário de qualquer natureza do conhecimento.

W.M. Davis, por ser geólogo, fundamen­tou sua análise evolutiva no comportamento estrutural ao longo do tempo, sendo, portanto, o componente responsável pela definição dos diferentes estágios. As variáveis estruturais e temporais individualizam o seu sistema, ficando as considerações processuais num segundo plano; ou seja, a estrutura geológica, quando resistente, se constitui no único controle da forma; o processo erosivo possui relevância quando a litologia favorece e o tempo assume importância no jogo entre as respectivas componentes.

Apesar das críticas relativas ao modelo específico sugerido por Davis, muitos geomorfólogos o aceitam enquanto noção de um sistema evolucionário. Conforme King (1953), “algumas autoridades têm rejeitado todo o conceito cíclico, enquanto outras (...) têm aceitado a idéia usual da existência de um ciclo evolutivo da morfologia processada pelos efeitos erosionais''.

Em síntese, a formulação evolucionista utilizada por Davis é contestada pelo excessivo idealismo, discutível generalização do ciclo e limitação temporal da geodinâmica responsável pelo estágio final do equilíbrio hidrológico. Tais elementos constituíram os pressupostos básicos de sua teoria, a qual implica concepção orgânica do relevo (fases antropomórficas) e ao mesmo tempo uma simplificação do sistema de referência (“hipóteses fundamentais simples” na observação de Leuzinger, 1948). A prática dedutivista (observação, descrição e generalização) e a práxis desligada do resto da Geografia são os principais pontos de contestação pela corrente naturalista da escola germânica, que tem como principais representan­tes, Albrecht e Walther Penck. Para Leuzinger (1948), “na verdade o método aconselhado por Davis não é dedutivo. Ele próprio o denominou de método explicativo ou genético e o qualificou como uma combinação dos métodos dedutivo e indutivo”. O autor explica que o método indutivo aplicado à geomorfologia “consiste em observar e descrever primeiramente, com detalhes e sem idéias preconcebidas, os fatos geomorfológicos tais como eles se apresentam, e estabelecer, somente após, uma hipótese explicativa dos mesmos. No método dedutivo, ao contrário, estabelecem-se em primeiro lugar as formas que se devem derivar das forças que agem na superfície da terra, e verifica-se depois se estas formas coincidem com as existentes”. Davis reunia e analisava o material disponível, induzia a generalizações e hipóteses explicativas, deduzia as conseqüências que derivam de cada hipótese, confrontava essas conseqüências com os fatos, tirando as primeiras conclusões; revelava e aperfeiçoava as explicações concebidas e tirava uma conclusão final sobre as hipóteses que resistissem às refutações, recebendo o nome de teoria. Leuzinger (1948) conclui que “na verdade esse método é indutivo e as deduções que contém destinam-se somente à confirmação das teorias obtidas por indução”. Carson & Kirkby (1972) valorizam a pertinência do modelo davisiano enquanto sistema de referência. Christofoletti (1999, p. 24) destaca o modelo de W.M. Davis expresso na linguagem verbalizada (em palavras e representadas em blocos diagramas), possuindo “todo o contexto de um raciocínio lógico”.

1.4.2. O Sistema de Walther Penck

Conforme foi dito, W. Penck foi um dos principais críticos do sistema de Davis, sobretudo ao afirmar que a emersão e a denudação aconteciam ao mesmo tempo ( Fig. 1.5 ), atribuindo desse modo a devida importância aos efeitos processuais. As críticas de Penck fundamentam-se no método empregado por Davis e na ausência de conexão com a ciência geográfica, uma das principais preocupações da escola germânica.

Para Davis, a denudação (BC) só teria início após o término do soerguimento (AB), enquanto que para Penck a denudação (B´C) é concomitante ao soerguimento (AB´), com intensidade diferenciada pela ação da tectônica ( Fig. 1.5 ).


Penck (1924) procura demonstrar a relação entre entalhamento do talvegue e efeitos denudacionais em função do comportamento da crosta, que poderia se manifestar de forma intermiten­te e com intensidade variável, contestando o modelo apresentado por Davis: rápido soerguimento da crosta com posterior estabilidade tectônica, até que se atingisse a suposta senilidade, quando nova instabilidade proporcionaria a continuidade cíclica da evolução morfológica.

Para Penck, o valor da incisão estava na dependência do grau de soerguimento da crosta, o que proporcionaria evidências morfológicas ou grupos de declividades vinculados à intensidade da erosão dos rios, submetidos aos efeitos tectodinâmicos (Fig. 1.6), conforme exemplos constatados na Floresta Negra (Alema­nha). No primeiro instante (T1 da Fig. 1.6 ) a incisão é relativamente incipiente, compatível com a intensidade do soerguimento; nas demais situações (T2, T3 e T4) é progressivamente maior, refletindo o grau de soerguimento.


Penck (1924) propunha que em caso de forte soerguimento da crosta, ter-se-ia uma correspondente incisão do talvegue, que por sua vez implicaria aceleração dos efeitos denudacionais em razão do aumento do gradiente da vertente. Admitindo-se que o efeito denudacional não acompanhasse de imediato a intensidade do entalhamento do talvegue, ter-se-ia o desenvolvimento de vertentes convexas (Fig. 1.7.1 ). Conclui-se que Penck levou em consideração a noção de nível de base local e a correspondência entre soerguimento, incisão e denudação, valorizando a relação processual, própria da concepção germânica.

Uma segunda situação apresentada por Penck (1924) é a de que, existindo um soerguimento moderado da crosta, com proporcional incisão do talvegue, poderia ocorrer uma compensação equilibrada pelos efeitos denudacionais, proporcionando o desenvolvi­mento de vertentes retilíneas ou manutenção do ângulo de declividade, o que foi denominado por ele de “superfície primária'' ( Fig.1.7.2 ).

Por último conclui-se que, quando a ascensão da crosta é pequena, ocorre um fraco entalhamento do talvegue, sendo a denudação superior o que propicia o desenvolvimento de vertentes côncavas ( Fig. 1.7.3 ).


Em suma, enquanto a forma convexa implica período de crescente intensidade de erosão ( Fig. 1.7.1 ), a forma côncava é prova de enfraquecimento erosivo ou de intensidade de erosão decrescen­te.

Penck reconhece a existência de limites para o processo de aceleração ou redução da denudacão da vertente. Particularmen­te na primeira situação, esses limites seriam atribuídos à instabilidade tectônica da crosta.

Para Carson & Kirkby (1972), fica a impressão de que Penck considerou os perfis de declividade como resultantes da movimentação da crosta, o que tem muito a ver com os escritos de Davis. Para os autores, não se opor às idéias de Penck é admitir que o sistema de levantamento-denudação proposto por Davis seja, provavelmente, o mais apropriado na maioria dos casos; se a denudação atual se dá via modelo de peneplanização, é um assunto bem mais duvidoso.

Enquanto Davis afirmava que o relevo evoluía de cima para baixo ( wearing-down , Fig.1.8b ), Penck acreditava no recuo paralelo das vertentes ( wearing-back , ou desgaste lateral da vertente, Fig. 1.8a ), constituindo-se no modelo aceito para o entendimento da evolução morfológica.



Em síntese, a maneira dinâmica da proposta penckiana foi um dos principais argumentos responsáveis pela ruptura epistemológica registrada na linhagem anglo-americana, à época da Segunda Guerra Mundial, até então fielmente adepta das idéias consagradas de Davis.

1.4.3. O Sistema de Lester C. King

A idéia de períodos rápidos e intermitentes de soerguimento da crosta, separados por longos períodos de estabilidade tectônica é o ponto principal do sistema apresentado por King (1955) e Pugh (1955), fundamentado em estudo de caso na África do Sul.

Essa teoria procura restabelecer o conceito de estabilidade tectônica considerado por Davis, mas admite o ajustamento por compensação isostática e considera o recuo paralelo das vertentes ( wearing-back ) como forma de evolução morfológica, de acordo com proposta de Penck (1924).

Os autores argumentam que o recuo acontece a partir de determinado nível de base, iniciado pelo nível de base geral, correspondente ao oceano. O material resultante da erosão decorrente do recuo promove o entalhamento das áreas depressionárias, originando os denominados pedimentos. A evolução do recuo por um período de tempo de relativa estabilidade tectônica permitiria o desenvolvimento de extensos pediplanos, razão pela qual a referida teoria ficou conhecida como pediplanação . Portanto, enquanto Davis chamava as grandes extensões horizontalizadas na senilidade de “peneplanos”, King (1955) as considerava como “pediplanos”, com formas residuais denominadas inselbergs. O emprego de uma das terminologias, peneplano ou pediplano, caracteriza a filiação epistemológica (anglo-americana ou germânica), considerando as diferenciações genéticas ( down wearing ou back wearing ) .

Pugh (1955) admite que a diferença no processo de erosão fornece resultados importantes: há uma reação isostática quase imediata ao abaixamento vertical da paisagem por erosão lateral. Assim, a compensação isostática ocorre somente quando um começo de denudação tenha acontecido, sendo conseqüentemente, um evento intermitente. Uma vez acontecido o reajustamento isostático, uma nova escarpa e um nível de embutimento (nova superfície pediplanada) são formados, justificando a evolução genética para a sucessão de níveis de aplainamento em um mesmo ciclo morfoclimático.

Deve-se considerar,, que, apesar da teoria da pediplanação ter sido originalmente relacionada a um clima úmido, como as demais apresentadas, partindo do princípio que foram produzidas nas regiões temperadas, supõe-se que a horizontalização topográfica esteja vinculada a um clima seco, assim como o desenvol­vimento vertical do relevo encontra-se relacionado a um clima úmido, levando em conta a incisão vertical da drenagem. Assim, a desagregação mecânica seria a grande responsável pelo recuo paralelo das vertentes, e seus detritos, a partir da base em evolução, se estenderiam em direção aos níveis de base, produzindo entulhamento e conseqüente elevação do nível de base local. Esse entulhamento se daria por atividades ou processos torrenciais, originando as formas conhecidas como bajadas e proporcionan­do o mascaramento de toda irregularidade topográfica, caracterizando a morfologia dos pediplanos ( Fig. 1.9 ).




1.4.4. O Sistema de John T. Hack

O autor que mais tem trabalhado no enfoque ací­clico do conceito de “equilíbrio dinâmico'' é Hack (1960). Esse conceito fundamenta-se na teoria geral dos sistemas, vinculado à linhagem anglo-americana pós-davisiana.

O princípio básico da teoria é o de que o relevo é um sistema aberto, mantendo constante troca de energia e matéria com os demais sistemas terrestres, estando vinculado à resistência litológica. Enquanto a proposta de Penck considera o modelado como resultado da competição entre o levantamento e a erosão, Hack o considera como produto de uma competição entre a resistência dos materiais da crosta terrestre e o potencial das forças de denudação.

Gilbert (1877) foi o primeiro a tentar explicar a evolução do relevo com base no equilíbrio dinâmico, embora Hack (1957, 1960, 1965) tenha ampliado consideravelmente as idéias iniciais. John T. Hack utilizou-a com o intuito de interpretar a topografia do vale do Shenandoah, na região dos Apalaches, levando em consideração as características das redes de drenagem e das vertentes. “Essa teoria supõe que em um sistema erosivo todos os elementos da topografia estão mutuamente ajustados de modo que eles se modificam na mesma proporção. As formas e os processos encontram-se em estado de estabilidade e podem ser considerados como independentes do tempo. Ela requer um comportamento balanceado entre forças opostas, de maneira que as influências sejam proporcionalmente iguais e que os efeitos contrários se cancelem a fim de produzir o estado de estabilidade, no qual a energia está continuamente entrando e saindo do sistema” (Christofoletti, 1980, p. 168).
Toda alternância de energia, seja interna ou externa, promove alteração no sistema, manifestada através da matéria, razão pela qual os elementos da morfologia tendem a se ajustar em função das modificações impostas, seja pelas forças tectodinâmicas, seja pelas alterações processuais subaéreas (mecanismos morfoclimáti­cos). Diante disso, a morfologia não tenderia necessaria­mente para o aplainamento, visto que o equilíbrio pode ocorrer sob os “mais variados panoramas topográficos” ( Fig.1.10 ).

Portanto, para Hack, as formas de relevo e os depósitos superficiais possuem uma íntima relação com a estrutura geológica (litologia) e mecanismos de intemperização, embora deixando transparecer maior valorização da primeira. O autor verificou que a declividade dos canais fluviais diminui com o comprimento do rio e varia em função do material que está sendo escavado. Por exemplo, na bacia de Shenandoah ele observou (1965) que os canais nos arenitos endurecidos possuíam um gradiente aproximadamente dez vezes maior que o dos canais esculpidos nos folhelhos. Assim, o equilíbrio é alcançado quando os diferentes compartimentos de uma paisagem apresentam a mesma intensidade média de erosão.



Enquanto Davis interpreta a uniformidade das cristas da Cordilheira dos Apalaches como resultado de rejuvenescimento de antigo peneplano, Hack a vê como manifestação de uma resistência estrutural igual às forças de erosão ( Tab. 1.1 ).

Na teoria do equilíbrio dinâmico as formas não são estáticas. Qualquer alteração no fluxo de energia incidente tende a responder por manifestações no comportamento da matéria, evidenciando alterações morfológicas. Como exemplo, as mudanças climáticas ou eventos tectônicos produzem alterações no fluxo da matéria, até a obtenção de novo reajustamento dos componen­tes do sistema. Algo intrínseco ao argumento de Hack é que o modelado do relevo se adapta rapidamente às variações dos fatores de controle ambiental.

Desse modo, quando o sistema readquire o equilíbrio dinâmico, desaparecem gradativamente as marcas relacionadas às fases anteriores que estavam presentes na paisagem. O referido equilíbrio poderá ser mantido ainda em condições de instabilidade tectodinâmica, desde que os efeitos denudacionais acompanhem o mesmo ritmo, o que já havia sido admitido anterior­mente por Penck (1929).

A noção de equilíbrio, apesar de empregada por Davis para caracterizar uma condição de estabilidade erosiva, como no caso do sistema hidrográfico (noção de perfil de equilíbrio) é considerada por Hack numa perspectiva sistêmica, como o resultado do “com­portamento balanceado entre os processos morfogenéticos e a resistência das rochas, e também leva em consideração as influências diastróficas atuantes na região'' (Christofoletti, 1973). Ainda deve-se considerar que os sistemas abertos podem levar à equifina­lização, ou seja, que condições iniciais diferentes podem conduzir a resultados finais semelhantes. Por exemplo, os calcários, resistentes aos processos físicos, podem adquirir, em determinado momento, semelhanças morfológicas a rochas resistentes aos processos químicos.

Diante do exposto, constata-se uma certa relação de dependência entre a proposta de Hack e as teorias discutidas anterior­mente. Além de incorporar o conceito davisiano de equilíbrio em novo estilo, Hack utiliza-se de relações dinâmicas apresentadas por Gilbert (1877) e posteriormente Penck (1924). O mérito atribuído a Hack é o de estruturar um encadeamento lógico na concepção sistêmica do modelado, em detrimento de uma visão fragmentada do relevo.

A tabela 1.1 mostra, em termos comparativos, os principais pontos constantes nos modelos apresentados (Davis, Penck, King e Hack).

1.5. Algumas Evidências quanto à Velocidade da Denudação

A relação soerguimento/denudação tem sido até hoje um assunto de muitas controvérsias. Cálculos apresentados por Dole & Stable (1909) indicam valores médios de denudação da ordem de 0,027 a 0,057 metros por mil anos, entendidos como baixos por serem estimados com base, exclusivamente, em materiais em suspensão, transportados por rios, ou cargas sedimentológicas abandonadas pela redução da competência de transporte. Langbein & Schumm (1958) sugerem níveis de denudação ligeiramente mais altos, em torno de 0,03 a 0,1 metro por mil anos.

Os níveis mais altos de produção de sedimentos foram registrados pela Federal Inter-Agency River Basin Comission (1953), em um pequeno reservatório em Iowa, correspondente a uma denu­dação de 12,6 metros/1000 anos ( Tab. 1.2 ).

Médias experimentais, realizadas em áreas montanhosas, demonstram níveis da ordem de 0,6 a 0,9 m/1000 anos, estimadas por Wegmann (1955), nos Alpes do norte, e Khosle (1953), em parte do Himalaia.

Estimativas de taxas de denudação a partir de estudos experimentais em bacias hidrográficas (Dole & Stabler, 1909, Langbein & Schumm, 1953, 1958, Faxman & High, 1955 e Fed. InterAgency River Basin Comission , 1953; apud Carson & Kirkby, 1972), demonstram variações da ordem de 0,03 a 12,6 metros/1.000 metros ( Tab . 1.2 ). Estudos realizados em áreas tectonicamente ativas (Gilluly, 1949, Stone , 1961, Tsuboi, 1933, Less, 1955, Gutenberg, 1941, Cailleux, 1952, apud Schumm, 1963) estimam soerguimentos da ordem de 0,1 a 75,0 metros/1.000 anos ( Tab. 1.3 ), demonstrando que os soerguimentos orogênicos são significativa­mente maiores que as taxas de denudação. Com base nessas premis­sas, parece bastante improvável que massas de terras poderiam ser produzidas ou emersas, independente do tempo, como estimadas por Penck (1924) e Hack (1960). Para Carson & Kirkby (1972), esta diferença entre níveis modernos de orogenia e denudação levam a admitir a validade do sistema de Davis, considerando rápido soerguimento de cadeias de montanhas, com pequenas modificações por erosão, até que a orogenia cesse.

Em síntese, torna-se muito difícil comprovar a refe­rida relação, visto que ao mesmo tempo em que os valores apresentados por Schumm (1963), concernentes às estimativas de níveis de levantamentos, encontram-se associados aos níveis modernos de orogenia para o entendimento do passado geológico, também os níveis modernos de denudação encontram-se alterados pelas derivações antropogênicas, em franca expansão.

As forças internas não só se referem ao processo de soerguimento e denudação, como interferem diretamente na disposição es­trutural das rochas, com repercussão em seu comportamento químico ou em sua propriedade física. Portanto, as forças endógenas implicam comportamento estrutural das rochas, as quais se manifestam de modo diferente frente aos processos erosivos.

Tabela 1.1 . Sistemas de Referência em Geomorfologia


CARACTERÍSTICAS
W.M. Davis (18­99)W. Penck (19­24)L.C.King/J.­Pug­h (1955)J.T. Hack (19­60)
CARACTERÍS­TICA GERAL DO SIS­TEMA
Rápido so­er­gui­men­to com pos­te­rior es­ta­bi­lida­de tec­tôni­ca e eus­táticaAscensão de massa com intensidade e duração diferentesLongos períodos de estabilidade tectônica, separados por períodos rápidos e intermitentes de soerguimento da crosta.Toda alternância de energia interna ou externa gera alteração no sistema atra­vés da matéria
RELAÇÃO SOERGUIMENTO/DENUDAÇÃO
Início da de­nu­daç­ão (co­man­dada pela in­cisão flu­vial) após esta­bi­li­da­de as­cen­sio­nalIntensidade de denudação associada ao comportamento da crostaDenudação concomitante ao soerguimentoReação do sistema com alteração do fornecimento de energia (oscilações climáticas)
ESTÁGIO FINAL OU PARCIAL DA MORFOLOGIA
Evolução mor­fo­ló­gica de cima para bai­xo ( wea­ring-down)Evolução por recuo paralelo das ver­tentes (wearing back )Evolução morfológica por recuo paralelo (wea­ring back )Todos os elementos da topografia estão mutuamente ajustados. Modificam-se na mesma proporção
CARACTERÍSTI­CAS MORFO­LÓGI­CAS
Fases antropo­mórficas: juven­tude, ma­tu­ridade e senilidade (peneplano)Processos de declividade laterais das vertentes: convexas, retilíneas e côn­cavas (relação incisão/denudação por ação crustal)Nível de pedimentação (coalescência de pedi­mentos: pediplano)As formas não são estáticas e imutáveis. Íntima relação com a estrutura geológi­ca
ESTÁGIO FINAL OU PARCIAL DA MORFOLOGIAPeneplanização (formas residuais:monad­nocks )Superfície primária (lenta ascensão compensada pela denudação). Não haveria produção de elevação geral da superfíciePediplanação (formas residuais:inselbergs )Não evolui necessariamente para aplai­namento (equifinalização). O equilíbrio pode ocorrer sob os mais variados “pa­noramas topográficos''
NOÇÃO DE NÍVEL DE BASEProcesso evolu­tivo comandado pelo nível de base geralVertente evolui em função do nível de base localPressupõe a generalização de níveis de base (qualquer ponto de um rio é considerado NB para os demais à montante)Ajustamento seqüencial.
VARIÁVEIS QUE COMPÕEM Os SIS­TEMATemporal/estru­tural com subordinação da pro­cessualProcesso, tectônica e tempoProcesso/forma, considerando o fator temporal, admitindo implicações isostásicasRelação formas/processos independen­tes do tempo (processo morfogenético-resis­tência das rochas - influências diastrófi­cas).

Tab. 1.2 - Estimativas de Níveis de Denudação em Bacias de Drena­gem*

Bacia de Drenagem
(em 1000 km2)
Níveis de Denu­dação
(metros/1000 anos)
Fonte
372,28
3,9
0,08
0,003

0,0003
0,03-0,06
0,03-0,10
0,06-0,22
2,55

12,6
Dole & Stabler, 1909
Langbein & Schum­m, 1953
Langbein & Schum­m, 1958
Flaxman & High, 1955
Fed. InterAgency River
Basin Com., 1953.
(*) Cfr. Carson & Kirkby, 1972.

Tab. 1.3 - Estimativas de níveis de levanta­mento em con­dições: a) Orogênica; b) Isostática; e c) Epirogênica*

LocalizaçãoLevantamento
(metros/1000 anos)
Fonte
Califórnia
Sul da Califórnia
a) Japão
Golfo Pérsico

Ontário do Sul
b) Fenoescandinávia

c)
4,8-12,6
3,9 -6,0
0,8-75,0
3,0


4,0
10,8
0,1-3,6
Gilluly, 1949
Stone, 1961
Tsuboi, 1933
Less, 1955

Gutenberg, 1941
Gutenberg, 1941

Cailleux, 1952
(*) Com base nas premissas de Shumm, 1963 ( apud Carson & Kirkby, 1972).

Deve-se observar que a estrutura geológica apresenta­rá comportamento diferente segundo condições climáticas, permitin­do maior ou menor intensidade denudacio­nal. O quartzito, por exemplo, apresenta maior resistência ao intemperismo químico (clima úmido) se comparado à sua reação frente à ação morfogenética mecânica (clima seco), num comportamento oposto ao dos arenitos e calcários.

É dessa relação rocha-clima, sem desconsiderar os ajustamentos tectogênicos, que se produzi­rá maior ou menor concentração de material em áreas deposicionais, o que responderá, numa escala do tempo geológico, em maior ou menor reação das forças internas, como os ajustamentos isostáticos.

Assim sendo, é necessário entender o relevo como algo dinâmico, em constante evolução, muito embora certas relações ou resultados não possam ser observados na escala de tempo histórica.

O fato de se ter atribuído maior importância a um dos elementos, estruturais ou climáticos, em detrimento do outro, deu motivo ao emprego de adjetivos como “geomorfologia estrutu­ral'' ou “geomorfologia climática'', fruto de tendências associadas a linhagens epistemológicas. Conforme observou Cholley (1950), não há duas geomorfologias, mas apenas uma, e sua gênese está ligada à ação de fatores erosivos associados ao clima, que constitui um complexo de agentes denominado pelo autor de “sistema de erosão” que cada clima coloca em evidência. Para Cholley (1950), o reflexo da estrutura ou do clima no comportamento morfológico caracteriza estágios que confirmam os conceitos davisianos: a erosão “normal”, ao colocar em evidência a estrutura, corresponderia a uma fase de “maturidade”, enquanto o esmorecimento da erosão demonstra a última etapa da evolução morfológica, caracterizando uma fase “senil”.

É natural que determinadas formas específicas demons­trem as conseqüências ou reflexos da estrutura, ainda que em outras formas essa estrutura se encontre mascarada pelos processos erosivos. Esse fato pode ser diferenciado pela própria escala da observação: nas imagens de satélite ou radar, em escala média de 1:100.000 a 1:250.000, a estrutura se mostra como elemento individualizador da morfologia. Uma análise mais detalhada, em maior escala (maior que 1:50.000), de determinados elementos do relevo, como uma vertente, revela que a estrutura normalmente se encontra mascarada pelos depósitos de cobertura, comandados pelos processos morfogenéticos pretéritos ou atuais.

Para Cholley (1950), a estrutura é algumas vezes insuficiente, mesmo no domínio da erosão “normal”, para explicar todas as formas. Por outro lado, deve-se considerar que dificilmente seria possível entender a relação da “contextura'' e composição química da rocha na individualização estrutural, se não se levasse em conta a ação dos mecanismos externos. A compreensão do significado do clima na elaboração de toda e qualquer morfologia explica o êxito da expressão “morfologia climática'', que de alguma forma marca a reação à atitude dos geógrafos que fizeram da estrutura o princípio de toda morfologia (Cholley, 1950).

O comportamento morfológico, numa escala de tempo geológico, se manifesta por meio da ação dos mecanismos externos e da reação da estrutura, admitindo a participação das forças internas (tectodinâmicas). A partir do capítulo seguinte serão analisados os efeitos do jogo de forças contrárias para a necessária compreensão do processo evolutivo do relevo.

Apresentam-se a seguir os níveis de abordagem geomorfológica sistematizados por Ab´Sáber (1969), que representam a estrutura metodológica do presente trabalho.

1.6. Os níveis metodológicos em Geomorfologia

O estudo da geomorfologia tem sido tratado ao longo do tempo, em dois grandes níveis: um relacionado à construção do edifício teórico, o que promove a base epistemológica para o desenvolvimento da pesquisa, e outro correspondente às expectativas associadas às aplicações dos conhecimentos. Exemplos que contribuíram para a consolidação de tais fatos podem ser evidenciados através da produção do conhecimento no final do século XIX, entre as duas grandes linhagens epistemológicas, tendo por objetivo definir um escopo teórico para a geomorfologia: os estudos relacionados à paisagem, na primeira metade do século XX, os estudos voltados aos aplainamentos, durante as duas guerras mundiais, e ainda, o estudo de vertentes, assumindo característica ambiental, surgido principalmente a partir da década de 70 do século passado. Os manuais de geomorfologia, via de regra, expressam a influência natural dos estágios epistemológicos da geomorfologia, podendo-se evidenciar o forte reflexo da escola estruturalista francesa no Brasil, ainda preservando forte tendência anglo-americana, na fase acadêmico-institucional inicial, e mais recentemente, o reflexo da linhagem epistemológica germânica nos estudos integrados da paisagem.

Importante para a sistematização desses conhecimentos e para o desenvolvimento da pesquisa geomorfológica no Brasil foi a importante contribuição do professor Ab'Saber (1969), concebendo a análise do relevo em três dimensões que se integram ou se interagem: a compartimentação topográfica, a estrutura superficial e a fisiologia da paisagem (Fig. 1.11 ).

a) Compartimentação Topográfica

Por compartimentação topográfica entende-se a separação de determinados domínios morfológicos que se individualizam por apresentarem características específicas, como determinados tipos de formas ou domínios altimétricos. As formas resultantes do processo evolutivo do relevo podem testemunhar episódios associados a determinados domínios morfoclimáticos, refletindo o jogo de forças entre os agentes internos, comandados pela estrutura e tectônica, e os externos, associados aos efeitos climáticos, em tempo suficiente para deixar impresso no modelado paleoformas relacionadas a processos morfogenéticos correspondentes. A compartimentação reflete a

interpenetração de forças contrárias, como os processos relacionados ou resultantes da morfogênese associada a climas seco e úmido, além dos reflexos proporcionados pela estrutura. Durante a atuação de uma fase climática seca, a morfogênese mecânica promove, por recuo paralelo das vertentes, o desenvolvimento de superfícies horizontais, caracterizando um estágio avançado de evolução. São os chamados níveis de pediplanação. Já numa fase de clima úmido, com a predominância da morfogênese química, há um entalhamento generalizado da rede de drenagem. As forças de soerguimento acontecem em ambas as fases climáticas, seca e úmida. Na fase seca, são responsáveis pelos degraus existentes entre um nível de superfície horizontal. Na fase úmida, essas forças contribuem para o entalhamento da drenagem, promovendo a dissecação do relevo.

É comum que as superfícies horizontais originadas em clima seco, sejam dissecadas pela drenagem nas fases úmidas. Portanto, o clima úmido, através da incisão de talvegues, tende a destruir as formas horizontalizadas, elaboradas em condições climáticas secas, e o clima seco tende a destruir as formas verticalizadas, elaboradas em clima úmido. A sucessão desse jogo de forças contrárias9 , levando em consideração o tempo de duração dos respectivos domínios morfoclimáticos, é responsável pela composição de formas que expressam situações diferenciadas, as quais permitem a compreensão da dinâmica morfogenética e sua história, registradas no relevo. As formas de relevo resultam da ação dos processos morfogenéticos ao longo do tempo, muitas vezes refletindo a resistência da estrutura aos efeitos do jogo de forças. Por exemplo, uma superfície aplainada em níveis altimétricos mais elevado, corresponde, via de regra, à uma forma mais antiga, relacionada a clima seco, partindo do princípio de que o relevo foi sendo soerguido ao longo do tempo. Podem-se constatar também, graus de dissecações diferenciados no relevo, considerando a relação entre a resistência litológica e as formas dominantes: em condições climáticas úmidas, o forte gradiente de vertentes em estruturas mais resistentes, implica maior intensidade de dissecação; ao contrário, nas superfícies erosivas, mesmo aquelas portadoras de litologias friáveis, a dissecação se apresenta incipiente.

O conceito de compartimentação topográfica, na realidade, apresenta uma dimensão muito maior que a própria denominação, uma vez que transcende a idéia de topografia, no que tange aos aspectos morfológicos e morfométricos do relevo, resultantes das propriedades adquiridas durante sua gênese. Para a sua compreensão, torna-se imprescindível entender o processo evolutivo, considerando a ação diferencial dos processos morfogenéticos: as mudanças climáticas no tempo geológico, os componentes de natureza estrutural, valorizando os mecanismos tectogenéticos e propriedade das rochas, sem desconsiderar os efeitos da interface em cada estágio de evolução. Portanto, torna-se indispensável resgatar os conceitos de Penck, que envolvem os processos exogenéticos e endogenéticos como fatores morfológicos. Valoriza-se, portanto, o clima como elemento responsável pela morfogênese diferencial em função do balanço das forças em ação .

b) Estrutura Superficial

O nível de abordagem correspondente à estrutura superficial refere-se ao estudo dos depósitos correlativos ao longo das vertentes ou em diferentes compartimentos. Esses depósitos são suscetíveis de transformação ao longo do tempo geológico, ensejadas por erosão e perturbações tectônicas locais. O longo período de tempo necessário para sua formação envolve mudanças climáticas, responsáveis por materiais diferentes em sua constituição. A denominação “depósitos correlativos” foi inicialmente apresentada por Penck (1924), quando foram associados às oscilações climáticas acontecidas no passado, sendo as mais expressivas aquelas vinculadas às oscilações do pleistoceno (a partir de 2 milhões de anos), relativamente melhor preservadas em função do tempo frente ao intemperismo. Como exemplo, as fases glácio-eustáticas pleistocênicas, caracterizadas pela expansão das calotas polares e redução do nível marinho, evidenciavam desenvolvimento de clima semi-árido nas regiões intertropicais; os processos morfogenéticos respondiam por desagregação mecânica das rochas, promovendo recuo paralelo das vertentes e respectivos depósitos correlativos, como os pedimentos detríticos. As fases interglaciais, ao contrário, caracterizadas pela redução das calotas polares e aumento do nível marinho, respondiam por um clima úmido nas regiões intertropicais, favorecendo a organização da drenagem e intemperização química das rochas, com coluvionamento de soleiras e depósitos aluviais em superfícies alveolares.

Pela estrutura superficial pode-se compreender os processos morfogenéticos pretéritos e oferecer subsídios, através das propriedades físico-químicas dos depósitos de cobertura, para o entendimento da vulnerabilidade do terreno. A referida abordagem deve estar associada aos demais parâmetros do relevo, como o gradiente da vertente, bem como aos processos morfodinâmicos atuais.

Bigarella & Mousinho (1965) conceituam depósitos correlativos como “seqüências sedimentares resultantes dos processos de agradação ocorrendo simultaneamente como fenômenos de degradação na área fonte”. Referem-se, portanto, ao material residual, depositado em seções de recepção, resultante dos mecanismos morfogenéticos pretéritos e atuais, motivados por diferenciações climáticas, ajustamentos tectônicos ou implicações de natureza antrópica, como os depósitos tecnogênicos. Com relação ao conceito de “depósitos tecnogênicos” Oliveira (1990) destaca tal relação com a ação humana, originados pela técnica, referindo-se a um novo período geológico denominado de Quinário ou Tecnógeno, “período em que a atividade humana passa a ser qualitativamente diferenciada da atividade biológica na modelagem da biosfera, desencadeando processos (tecnogênicos) cuja intensidade supera em muito os processos naturais”;

c) Fisiologia da Paisagem

A fisiologia da paisagem diz respeito ao momento atual e até sub-atual do quadro evolutivo do relevo, considerando os processos morfodinâmicos, como o significado das ocorrências pluviométricas nas áreas intertropicais, ou processos específicos nos diferentes domínios morfoclimáticos do globo, bem como as transformações produzidas na paisagem pela intervenção antrópica. A apropriação do relevo, como suporte ou recurso, origina transformações que começam com a subtração da cobertura vegetal, expondo o solo aos impactos pluvioerosivos. A partir de então ocorrem alterações nas relações processuais, como as mudanças no jogo das componentes – de perpendicular, correspondente à infiltração, à paralela, relacionada ao escoamento superficial ou fluxo por terra.

No estudo da fisiologia da paisagem, denominação utilizada por S. Passarge no início do século XX, procura-se avaliar os processos morfodinâmicos atuais, considerando o relevo numa possível perspectiva de Kügler (1976), ou seja, considerando suas propriedades geoecológicas e sócio-reprodutoras. O processo de apropriação do relevo pelo homem, seja como suporte ou recurso, responde pelo desencadeamento de reações que resultam no comportamento do modelado, considerando os efeitos morfodinâmicos convertidos em impactos.

O conceito de fisiologia da paisagem pode ser sintetizado a partir da abordagem da teoria biorresistásica de Erhart (1958), bem como pela noção de ecodinâmica apresentada por Tricart (1978), que culmina com a caracterização do grau de estabilidade dos diferentes meios. Devem ser consideradas, no estudo da fisiologia da paisagem, as transformações produzidas pelo homem desde a revolução neolítica até os dias atuais, indutores das alterações associadas à intensidade e à freqüência dos processos, que culminam em impactos no meio físico.

Para Abreu (1986), “enquanto as propriedades geoecológicas se originam de processos biológicos e morfodinâmicos presididos pelas leis biológicas, físicas e geoquímicas, que cunham as formas e lhes conferem conteúdo plástico, as propriedades sócio-reprodutoras são definidas pelo interesse imediato dos homens pelo relevo como recurso, face ao seu conteúdo (solos, depósitos minerais etc.), ou como suporte de edificações de um espaço construído”.

Os níveis de abordagem nos estudos geomorfológicos, vistos de uma forma integrada, permitem a compreensão do relevo na sua total dimensão. Para se evidenciar a importância da análise integrada dos referidos níveis nos estudos do relevo, recorre-se aos parâmetros imprescindíveis à elaboração de uma carta geomorfológica, considerando critério adotado por Tricart (1967). São quatro os parâmetros que integram uma representação do relevo em grande escala: morfométricos, morfográficos, morfogenéticos e cronológicos (veja capítulo 5). As informações morfométricas e morfográficas são valorizadas na compartimentação do relevo. As morfométricas referem-se às dimensões métricas do relevo, enquanto as morfográficas, às próprias formas existentes, transcritas segundo representações apropriadas. 

As informações de natureza cronológica são obtidas por meio de formas específicas (terraços, níveis de pedimentação, dentre outras) e principalmente pelo estudo da estrutura superficial. Os elementos morfogenéticos referem-se tanto aos reflexos dos processos morfodinâmicos atuais, enfocados pela fisiologia da paisagem, como pretéritos, responsáveis pela elaboração do modelado e respectivos depósitos correlativos. Outro aspecto digno de nota refere-se ao grau de envolvimento do pesquisador com as atividades desenvolvidas nos diferentes níveis da análise geomorfológica. Nos levantamentos concernentes à compartimentação topográfica o trabalho se caracteriza mais por atividades desenvolvidas no gabinete, utilizando-se de cartas de base, fotografias aéreas ou imagens, ficando as atividades de campo restritas a observações e comprovações. No estudo da estrutura superficial os levantamentos de campo são imprescindíveis, considerando a descrição e análise de perfis disponíveis ou abertura de trincheiras, além de coleta de material para análise laboratorial (análise granulométrico-textural, palinológica, geocronológica, dentre outras). Por último, no estudo da fisiologia da paisagem o controle de campo se intensifica, considerando a necessidade do acompanhamento sistemático dos processos, os quais normalmente exigem o emprego de equipamentos específicos e até mesmo recursos técnicos sofisticados, como miras graduadas, calhas coletoras, simuladores de chuva ou traçadores radioativos como os introduzidos por De Ploey (1967) em pesquisas geomorfológicas experimentais.

Antes de tratar especificamente de cada um dos níveis de abordagem do relevo, serão apresentados alguns conceitos importantes, relacionados aos aspectos taxonômicos, como aqueles relativos aos processos e dimensões espaciais dos fenômenos. Primeiramente apresentam-se algumas diferenças de determinados termos específicos da geomorfologia, como processos morfoclimáticos, morfogenéticos e morfodinâmicos.

Por processos morfoclimáticos entende-se aqueles de significativa abrangência espacial, com tempo geológico de duração suficiente para elaborar determinados tipos de modelados específicos. Exemplo desse processo são os extensos pediplanos de cimeira que ainda podem ser verificados em praticamente todo continente brasileiro, relacionados a condições climáticas secas, elaborados num tempo geológico (provavelmente no Terciário Médio ou posterior) com duração suficiente para proporcionar correspondência entre forma e clima, ou melhor, forma e processo. Considerando o ajustamento da paisagem ao domínio climático ao longo das faixas latitudinais, Tricart & Cailleux (1965) representaram as grandes “zonas morfoclimáticas” do globo, partindo do conceito de que tais compartimentos devem ser entendidos numa determinada dimensão espacial (zonal e de domínios regionais), com duração temporal dos processos suficiente para imprimir marcas ou formas compatíveis na paisagem.

Por processo morfogenético entende-se a relação entre a modalidade de intemperismo e formas correspondentes, que podem variar tanto no tempo de elaboração como na extensão territorial, provocando maior ou menor associação na relação processo-forma. Como exemplo podem se mencionar os processos morfogenéticos responsáveis pelos extensos aplainamentos associados aos climas secos do Terciário Médio, ainda bem preservados no Centro-Oeste brasileiro, ou ainda o reafeiçoamento de formas e respectivos depósitos correlativos, associados às oscilações climáticas pleistocênicas. As fases glácio-eustáticas pleistocênicas, com duração média de 50.000 a 100.000 anos, foram responsáveis pela elaboração de rampas pedimentadas nas regiões intertropicais, bem como formas associadas à expansão dos glaciais nas regiões temperadas. Portanto, tais processos não tiveram tempo suficiente de duração para imprimir significativamente suas marcas no relevo, em nível de domínio, e nem mesmo tiveram uma abrangência espacial tão expressiva, como os pediplanos, por ocasião das condições climáticas semi-áridas do Terciário.

O conceito de processo morfodinâmico tem sido entendido como aquele associado ao intemperismo atual, ou seja, relacionado à escala de tempo histórica, incorporando-se às diferentes formas de intervenções, destacando-se as antropogênicas. Portanto, são processos mais restritos, tanto no tempo quanto no espaço, sujeitos a oscilações ou ritmos dos principais agentes naturais, como as chuvas, considerando as modificações impostas pelo ser humano no processo de apropriação do relevo. Encontra-se correlacionado ao terceiro nível de abordagem tratado pela fisiologia da paisagem.

Assim, esses termos podem ser empregados considerando os limites impostos à compreensão da especificidade do fenômeno observado. Quanto mais distante o evento geomorfológico (tempo geológico) em relação à impossibilidade de observá-lo nas suas especificidades diárias (tempo humano), menor a capacidade de compreendê-lo quanto à sua dinâmica.

Outro assunto importante para melhor compreensão da compartimentação do relevo diz respeito às unidades taxonômicas têmporo-espaciais, que têm por princípio a dimensão das formas na perspectiva tridimensional (tamanho, gênese e idade). Ross (1992), utilizando-se das unidades taxonômicas apresentadas por Demek (1967), propõe seis níveis para a representação geomorfológica (Fig. 1.12 ):

1 º táxon, que corresponde a uma maior extensão superficial, é representado pelas Unidades Morfoestruturais (denominado de “Domínios Morfoestruturais” no manual do IBGE, 1995), cuja escala permite a plena identificação dos efeitos da estrutura no relevo, como mostram as imagens de radar ou as de satélite, em escala média (em torno de 1:250.000). Exemplo pode ser dado para o Estado de Goiás, pelos escudos antigos associados aos dobramentos arqueanos e proterozóicos, que se distinguem dos depósitos paleomesozóicos da bacia sedimentar do Paraná. Este táxon organiza a causa de fatos geomorfológicos derivados de aspectos amplos da geologia com os elementos geotectônicos, os grandes arranjos estruturais e eventualmente a predominância de uma litologia conspícua” (IBGE, 1995, p. 11);
2 º táxon: refere-se às Unidades Morfoesculturais (denominado de “Regiões Geomorfológicas” pelo IBGE, 1995), contidas em cada Unidade Morfoestrutural. Refere-se a compartimentos que foram gerados pela ação climática ao longo do tempo geológico. “Estas se caracterizam por uma compartimentação reconhecida regionalmente e apresentam não mais um controle causal relacionado às condições geológicas, mas estão ligadas, essencialmente, a fatores climáticos atuais ou passados. “Incluem-se neste taxon os planaltos e as serras, as depressões periféricas como a da Bacia do Paraná” (Tominaga, 2000). As unidades morfoesculturais, em geral, não têm relação genética com as características climáticas atuais (Ross, 1992);



3 º táxon: representa as Unidades Morfológicas ou Padrões de Formas Semelhantes (correspondente às “Unidades Geomorfológicas” na metodologia adotada pelo IBGE, 1995), que por sua vez encontram-se contidas nas Unidades Morfoesculturais. Trata-se de compartimentos diferenciados em uma mesma unidade, relacionados a processos morfoclimáticos específicos, com importante participação dos eventos tectônicos ou diferenciações litoestratigráficas, sem desconsiderar influências do clima do presente. O Manual Técnico de Geomorfologia (IBGE, 1995) define-o como arranjo de formas fisionomicamente semelhantes em seus tipos de modelado. A identificação dessas unidades na Folha SE.22 Goiânia (Mamede et al, 1983) fundamentou-se na visão de conjunto fornecida pela imagem de radar, na similitude de formas de relevo, no posicionamento altimétrico relativo e na existência de traços genéticos comuns, que “constituíram a gama de elementos que permitiu a identificação de quatro unidades geomofológicas: o Planalto Central Goiano, os Planaltos e Chapadas da Bacia Sedimentar do Paraná, o Planalto dos Guimarães (Alcantilados) e a Depressão do Araguaia”. O Planalto Central Goiano integra quatro subunidades, morfologicamente distintas: Planalto do Distrito Federal, Planalto do Alto Tocantins-Paranaíba, Planalto Rebaixado de Goiânia e as Depressões Intermontanas. A unidade geomorfológica Planaltos e Chapadas da Bacia Sedimentar do Paraná abrange o Planalto Setentrional da Bacia do Paraná e o Planalto de Maracaju-Campo Grande.
4 º táxon: refere-se às formas de relevo individualizadas na unidade de padrão de formas semelhantes (correspondente aos Modelados na metodologia adotada pelo IBGE, 1995). Estas formas, quanto à gênese, podem ser: agradação, como as planícies fluviais ou marinhas, terraços fluviais ou marinhos, ou de denudação, como colinas, morros e cristas. Para o IBGE (1995, p. 12), “na composição do mapa geomorfológico são delimitados quatro tipos de modelados: os de acumulação, os de aplanamento, sempre que possível identificados pela definição de sua gênese e funcionalidade, os de dissecação e os de dissolução”.
Uma unidade de padrão de formas semelhantes é composta por numerosas formas de relevo com morfologia e morfometria semelhantes entre si. A identificação morfológica nas manchas ou polígono de modelado correspondente a grupamento de formas do relevo, é expressa através de letras (Projeto Radambrasil): “S” para formas estruturais, “E” para formas erosivas e “A” para formas de acumulação. As formas de dissecação são identificadas pelas letras “a” (formas aguçadas), “c” (formas convexas) e “t” (formas tabulares). A caracterização morfométrica é estabelecida pela dimensão interfluvial e o aprofundamento da drenagem. Ross (1992) sugere a seguinte relação de grandeza das formas de dissecação ( Tab. 1.4 ):

Tabela 1.4 . Índice de dissecação considerando a relação aprofundamento da drenagem e dimensão interfluvial


Dimensão interfluvial (em metros)
Grau de aprofundamento da drenagem
Muito grande (1)
> 1.500
Grande (2)
1.500 a 700
Média (3)
700 a 300
Pequena (4)
300 a 100
Muito pequena (5)
<100
Muito fraco (1)
< 10 m
11
12
13
14
15
Fraco (2)
( 10 a 20 m )
21
22
23
24
25
Médio (3)
20 a 40 m
31
32
33
34
35
Forte (4)
40 a 80 m
41
42
43
44
45
Muito forte (5)
> 80 m
51
52
53
54
55
Fonte: Ross (1992)

5 º táxon: refere-se às partes das vertentes ou setores das vertentes de cada uma das formas do relevo. “As vertentes de cada tipologia de forma são geneticamente distintas, e cada um dos setores dessas vertentes pode apresentar características geométricas, genéticas e dinâmicas diferentes” (Tominaga, 2000, p. 17). A representação zonal desse táxon só é possível em escalas grandes (1:25.000, 1:5.000). Nas escalas médias (1:50.000, 1:100.000) podem ser individualizadas através de símbolos lineares ou pontuais. No Manual Técnico de Geomorfologia do IBGE (1995) o 5º táxon, ou ordem de grandeza, abrange fatos cuja dimensão espacial implica representação por símbolos lineares ou pontuais.

6 º táxon: “corresponde às pequenas formas de relevo que se desenvolvem por interferência antrópica direta ou indireta ao longo das vertentes. São formas geradas pelos processos erosivos e acumulativos atuais” (Ross, 1992), como ravinas, voçorocas, corridas de lama, assoreamentos, dentre outros. Tais representações só se tornam possíveis em escala grande (1:5.000, 1:1.000).

O estudo geomorfológico permite o detalhamento de formas além do 6º táxon, como o estudo da micromorfologia de materiais na estrutura superficial, ou ainda considerações sobre evolução ou formas do relevo à luz da teoria dos fractais. Com relação à abordagem fractal, Christofoletti (1999, p. 67) a evidencia como uma nova “linguagem” usada para descrever, modelar e analisar as formas complexas encontradas na natureza, tendo como noção básica a repetividade do padrão geométrico nas diversas escalas de grandeza espacial.

No estudo das unidades morfoestruturais destaca-se à expressividade manifesta pela estrutura (rochas e tectônica), mesmo sabendo que a dissecação, enquanto processo, foi a responsável pela exumação e exposição das formas associadas à estrutura. Como a estrutura é destacada, atribui-se o fato geomorfológico à tipologia estrutural, a exemplo do evidenciado através dos mosaicos de radar ou imagens de satélite em escalas média a pequena (1:250.000; 1:500.000). Ao contrário, quando se trabalha em maior escala, como 1:5.000 ou 1:25.000, a estrutura é mascarada pelos depósitos de cobertura, evidenciando maior participação dos processos morfogenéticos na compreensão das formas.

Constata-se hoje, nos estudos geomorfológicos, importante tendência em não se valorizar um componente em detrimento do outro (clima x estrutura), o que demonstra amadurecimento epistemológico no sentido de se procurar entender o relevo em sua integridade.

Notas de Rodapé

2 Por depósito correlativo ou estrutura superficial entende-se determinado tipo de material associado a processos morfogenéticos determinados por condições climáticas específicas.

3 Conforme Rorty (1995) “as teorias holísticas parecem dar licença a todos para construírem seu próprio pequeno todo - seu próprio pequeno paradigma, sua própria pequena prática, seu próprio pequeno jogo de linguagem – e depois se arrastam para dentro do mesmo”.

4 Capra (1996) esclarece de forma original a diferença entre os termos “holístico” e “ecológico”, utilizando-se do exemplo da concepção de se ver a bicicleta: a visão holística “significa ver a bicicleta como um todo funcional e compreender, em conformidade com isso, as interdependências das suas partes. Uma visão ecológica da bicicleta inclui isso, mas acrescenta-lhe a percepção de como a bicicleta está encaixada no seu ambiente natural e social – de onde vêm as matérias-primas que entram nela, como foi fabricada, como seu uso afeta o meio ambiente natural e a comunidade pela qual ela é usada, e assim por diante”.

5 Morin (1977) resgata o conceito da physis , dos pré-socráticos, no sentido de entender que o universo físico deve ser concebido como o próprio lugar da criação e da organização. Nesse sentido, parte da idéia de que “somos seres físicos”, o que transforma a physis em “princípio significante”.

6 A “externalização da natureza” , utilizada como certa freqüência, significa a externalização do homem em relação à natureza, entendida como argumento de promoção à legitimação da apropriação privada dos meios de produção.

7 Por nível de base entende-se todo e qualquer ponto mais baixo em relação a uma área localizada a montante, que se caracteriza como referência aos processos erosivos. O nível de base de um curso d´água corresponde ao rio localizado a jusante, o qual terá, como nível de base, outro curso localizado mais abaixo (níveis de base locais e regionais). O nível de base geral de todos os rios é o nível do mar.

8 Perfil de equilíbrio é uma referência teórica que se tem, descrita por um curso d´água (curva hiperbólica). Para se obter o suposto perfil de equilíbrio, haveria necessidade de longo tempo de estabilidade tectônica e climática.

9 O jogo de forças contrárias ao longo do tempo permite relacioná-lo a um procedimento dialético, considerando suas respectivas leis: a passagem da quantidade em qualidade, o que pode ser atribuído à persistência de determinada ação morfogenética (clima seco ou úmido) na elaboração de formas (aplainamentos ou incisão vertical pela drenagem) ; e a interpenetração dos contrários, correspondente à associação de formas pretéritas e atuais, como a existência de testemunhos de aplainamentos em pleno domínio climático úmido.

10 Para Penck (1953), “os três elementos são: 1) processos exógenos; 2) processos endógenos; e 3) o produto de ambos como podem ser chamadas as feições morfológicas.

11 Os Modelados referem-se a “formas de relevo que apresentam similitude de definição geométrica em função de uma gênese comum e da generalização dos processos morfogenéticos atuantes, resultando na recorrência dos materiais correlativos superficiais” (IBGE, 1995).

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